domingo, 21 de fevereiro de 2021

os cactos 2

 

Muito se fala, com razão, das flores. Rosas, girassóis, crisântemos, margaridas...já foram homenageadas em músicas, poemas, pinturas. Mas pouco se fala das flores que o cacto também sabe produzir. Acho uma injustiça com esse artista da resistência. Na dele, sem chamar a atenção, o cacto  é capaz de atos que trazem a beleza da generosidade.  Assim age esse perseverante resistente:  o  cacto é a planta que possui a maior raiz. A extensão de sua raiz chega a nove ou dez vezes o tamanho do corpo do cacto que vemos à superfície do chão. Quem mede o cacto apenas pela sua parte visível, e pensa que a parte que vê é todo o ser do cacto, por certo ignora o que o cacto é capaz de fazer. O cacto cria imensas raízes para sondar o subsolo , não se deixando vencer pela aridez que o cerca. As raízes do cacto tateiam procurando veios d’água metros abaixo da paisagem seca. Ele persevera procurando no coração da Mãe Terra a água que o Céu lhe nega. Quando encontra a água, o cacto anuncia sua descoberta brotando flores: em pleno árido , ele inaugura uma primavera. Então, ele sorve o líquido e se intumesce , de água fresca ficando grávido. Basta um pequeno furo para a água jorrar matando a sede dos necessitados. Foram os cactos do sertão nordestino que, no passado, não deixaram morrer de sede a rebeldia de Lampião e seu cangaço ; e a flor que Maria Bonita punha no cabelo também floresceu de um  cacto : o mandacaru, símbolo da força  do povo nordestino.  O cacto mandacaru  expressa a resistência da vida, uma resistência que também se faz com poesia e beleza, apesar da aridez que a cerca . O mandacaru  matou a sede de Lampião e deixou a Maria ainda mais Bonita. Nessa época do ano, lá no sertão nordestino, os mandacarus  anunciam que já vão  começar a florir.

 

“Quando não pode ser cristal, a poesia vale pelo que tem de cacto.”(João Cabral de Melo Neto)


( imagem: “flor do mandacaru)



 











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