terça-feira, 17 de março de 2020

o clarão do poeta


Há um poema de Manoel de Barros no qual ele descreve o anúncio e a chegada da chuva no Pantanal ermo. O dia foi quente, seco, árido, sufocado. Já finda a tarde, vem a noite, escurece rápido.  O cheiro de terra molhada anuncia a chegada da chuva .  As plantas , os grãos, os bichos... tudo o que é vivo esperava por ela, dela precisava. Então, a chuva  vem e envolve tudo. A noite fica muito escura, não se vê nada. De quando em quando, porém, risca o céu um relâmpago parecendo o flash de uma máquina fotográfica. Nesse ínfimo instante, o clarão a tudo ilumina e faz parecer dia, semelhante à intuição de Espinosa clareando  a natureza infinita.  Depois que o relâmpago passa, retorna a escuridão que cega e não deixa ver nada. Mas logo vem outro clarão e orienta o poeta a avançar na direção certa.  O relâmpago é lanterna celeste  que mostra a trilha no chão. E quando o clarão de novo acende, o poeta retém na memória o caminho que o clarão iluminou. Assim o clarão emana agora dos  olhos do poeta: mesmo no escuro, o poeta ao caminho enxerga , para que nele possam seguir adiante as pernas. Apesar da noite tremenda que o cerca, o clarão do relâmpago é    farol mais potente do que milhões de lâmpadas elétricas , orientando  o poeta  no retorno à casa. E assim    o poeta  avança   com  sua palavra poética :  clarão  que guia apesar  das  trevas.





- livro: "O clarão de Espinosa"


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