quarta-feira, 14 de agosto de 2019

a fonte, o rio e o mar


Quando um acontecido passa e se torna passado, e entre o acontecido  e nós vai aumentando  uma distância que só o tempo pode medir ( pois não é uma distância no espaço), esse passado que passou , sua passagem e o seu ficar para trás, é algo irreversível? O que passou se vai e nunca pode ser de novo vivido a não ser como um fantasma que se evoca ? Ou será que é o passado que retém e salva o que no presente passa? Afinal, dizia Bergson, não é o passado que passa, quem passa é o presente. Não é o acontecido que se afastou, fomos nós que nos afastamos dele? Somos como peixes que saíram da nascente do rio onde nascemos e fomos ao mar? É possível, tal como fazem os peixes, desterritorializar-se  do mar, entrar de novo na foz do rio, subi-lo contra a correnteza e alcançar de novo a fonte onde nascemos? Se isso for possível, esse retorno ao passado não é nostalgia, ele é o intuir a vida que nunca se separa totalmente de si mesma. Ir para o passado não é um voltar, mas um ir para dentro, cada vez mais próximo de onde o tempo brota, para assim descobrir, intuindo, que é o próprio tempo  a água que se torna rio, avança como fluxo e se horizonta, azul, como mar.




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