Os piores inimigos da democracia,
segundo os gregos, não eram os Persas. Os piores inimigos da democracia
estavam na própria Grécia. A democracia é, antes de tudo, uma visão do homem e
do poder. O pilar da democracia era a seguinte ideia: o homem é um “animal
político”, um “ser da pólis”. A palavra “pólis” é mais do que a mera cidade
enquanto espaço físico. A pólis é a comunidade humana na qual quem é comandado também comanda,
diretamente ou por intermédio de um representante seu, que pode ser destituído
caso não respeite as regras estabelecidas em comum. Os inimigos da democracia
não aceitavam tal “igualdade natural” entre os homens. Para esses inimigos, o
homem não seria um ser capaz de
autogovernar-se ; o homem seria, segundo eles, um “animal de rebanho”. Como todo animal de
rebanho, o homem precisaria de um “pastor”. É o pastor quem ordenaria o que o homem deveria fazer, pensar, dizer,
enfim, ser. Sem o pastor, o homem se perderia. “Liberdade é maldição”, apregoa o pastor que
governa o rebanho não por eleição ou escolha, mas devido à pretensa desigualdade
natural dos homens: a maioria nasceu para ser rebanho, enquanto uns poucos, os
“eleitos”, nasceram para ser pastor. Ao ouvir certa vez um defensor de tal “servidão
natural” , um filósofo indagou: “na democracia, podemos destituir um mau
governante, mas o rebanho não pode destituir um mau pastor. Na democracia, é a
defesa da liberdade e da justiça o que une os homens livres; já o pastor mantém o rebanho unido fomentando o medo e o ódio aos lobos. Mas o pastor cuida do rebanho porque tem um interesse que escamoteia : ele
quer tosquiar o rebanho e depois vender sua carne no mercado. Quem é o pior predador: o que preda apenas o
corpo , como o lobo, ou o que preda o corpo e a alma?” . Ameaçando, o
antidemocrata perguntou: “qual teu nome!?”
O filósofo respondeu: “Sou Diógenes, a quem chamam ‘Cão’, pois farejo
toda espécie de lobo: os que uivam e os
que falam, os de verdade e os dissimulados ”.
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