Espinosa afirma: Deus possui infinitos atributos, dos quais
conhecemos apenas dois: a extensão e o pensamento. Pensamento e extensão ,
mente e corpo, são partes da Natureza, não são a Natureza inteira. Devemos
tomar o máximo cuidado, por isso mesmo, para não querermos imaginar os outros
atributos que não conhecemos, como se a imaginação pudesse mais do que o
pensamento nesse campo. Decerto que a imaginação pode coisas diferentes daquelas
que pode o pensamento, porém poder
coisas diferentes não significa poder mais naquilo que apenas o pensamento
pode, que é exatamente o conhecimento do infinito. Se cedermos à tentação e
acharmos que a imaginação poderá imaginar o que o pensamento não pode conhecer,
começaremos a duvidar da própria potência do pensar, atribuindo deficiência ao pensamento de pensar uma
realidade mais elevada, que somente a imaginação poderia alcançar, de tal modo que
acabaremos por diminuir aquilo mesmo que
podemos conhecer, como extensão ( ou corpo) e como pensamento (ou ideia). Enfim,
entraremos no delírio, que se tornará tão ou mais perigoso quando querer
expressar-se no campo político, o que
cedo ou tarde acaba acontecendo, outrora e agora, hoje.
Quando a imaginação
ignora a sua virtude, que é a de imaginar, e passa a querer conhecer a Natureza , correm risco o corpo e
as ideias : o corpo será demonizado,
pelos moralistas, ou narcisado, pelos egoístas, ao passo que as ideias serão confundidas com meras elucubrações
mentais, sem lastro de saúde do
espírito.
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