sábado, 9 de setembro de 2017

geometria e poesia

Há em Espinosa uma maneira muito peculiar de raciocinar. Não é como a lógica aristotélica , decalcada que é da semântica da língua grega. A lógica de Espinosa é geométrica na forma e poética no conteúdo. A geometria não é uma língua falada por um povo, senão a língua do próprio espírito. Porém tal língua não é capaz, sozinha, de produzir  o sentido que o espírito expressa e fala. 
Ler apenas o que Espinosa escreve não é apreender todo o sentido que há no que ele expressa. É preciso apreender o modo como ele raciocina, embora apenas o raciocínio também não expresse toda a potência de  sentido que há no seu dizer. 
A lógica espinosana  se expressa nas palavras, mas as emendando , depurando delas as tristezas e os ódios, os delírios que nascem de uma razão sem corpo . 
Há em Espinosa o singular encontro, nunca antes acontecido, entre a forma de um  raciocínio geométrico  unida a uma intuição poética que não se pode reduzir a raciocínios, pois ela é de outra ordem, mais semelhante a um afeto singularizante do que a  um teorizar universalizante. 
Pensar não é apenas raciocinar. Pensar é unir o raciocinar a um intuir poético que nunca pode ser reduzido a um raciocínio, e sem o qual todo raciocínio é tão somente malabarismo intelectual.



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