sábado, 4 de março de 2017

os feiticeiros...

"Nós, os feiticeiros..."
Deleuze e Guattari

1.Existem os Caciques e os Feiticeiros.  Eles se diferem, sobretudo, no modo como compreendem e buscam poder.Os Caciques imaginam que ter poder é dominar, explorar, vencer, ser o primeiro,derrotar o rival.Os Caciques tendem à paranoia. Já os Feiticeiros exercem a potência. Esta é o exercício de descobrir misturas entre seres heterogêneos.Por isso, os Feiticeiros operam por alianças, contágios, mestiçagens.Os Feiticeiros estão mais próximos dos Guerreiros do que dos Caciques, uma vez que todo Feiticeiro é um Guerreiro do mundo espiritual.
No mundo espiritual  os inimigos são os maus pensamentos, os sentimentos de ódio e tristeza, de tirania e escravidão.
Os Caciques moram no centro da taba, ao passo que os Feiticeiros frequentam as zonas fronteiriças das aldeias, os limiares, tornando-se a ponte entre estas e a floresta imensa.
Os Caciques exibem a cabeça dos animais mortos como troféus, já os Feiticeiros aprendem os signos e as maneiras dos animais nos quais a vida moldou beleza , força, altivez, independência ,coragem - e não raro os Feiticeiros são aceitos como um deles, aprendendo seus cantos, suas camuflagens, suas velocidades e percepções .
Todo Cacique se pretende um Mestre que de ninguém mais depende, ao passo que todo Feiticeiro é, por toda a vida, um aprendiz de feiticeiro, de tal maneira que nunca ele é o primeiro, mas aquele que descobre o Primeiro em tudo, inclusive naquilo que o Cacique pensa ser o último.
Há os Caciques da Filosofia. Porém em todo autêntico filosofar há um Feiticeiro que conecta a filosofia com a não-filosofia : onde o Cacique vê uma fonte Una como origem do rio múltiplo que corre,fonte esta que ele crê ser o único a beber, o Feiticeiro descobre um rio subterrâneo múltiplo e incontível, que sobe à superfície através da fonte. Não é o rio que brota da fonte, não é o múltiplo que nasce do Um:o Um, a fonte, é produzido pelo múltiplo que não tem origem ou fim, uma vez que ele é sua própria fonte : foi da  multitudo de gotas que caíram do céu que o rio nasceu.A chuva é o rio descendo, o rio é a chuva que desceu.

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2.A filosofia não nasceu na Grécia. Ela foi deixada lá ainda criança, tal como aqueles bebês deixados à porta de alguém. Inclusive, a tez da filosofia é mais escura e mestiça do que a branca pele grega. Há quem diga que seus pais eram Egípcios; outros afirmam que foram os Assírios que a conceberam; e há quem defenda ainda que os pais da filosofia foram os nômades povos do deserto, que se guiavam pelas estrelas e desprezavam a propriedade privada. A porta em que a filosofia foi deixada para ser cuidada pertencia à casa de um homem digno chamado Tales.Ele a criou e a ensinou a ficar de pé.Com Heráclito ela aprendeu a brincar; com Nietzsche, a dançar; e  a fazer-se mais viva lhe ensinou Espinosa, diante daqueles que a querem morta. 








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