sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

os frutos do manoel






Se a gente não der o amor ele  apodrece em nós.

Manoel de Barros


O que diz Manoel também já o disseram sábios, santos, simples.Já o disseram fazendo.Quando a gente dá o amor, aquele que o recebe e o que dá passam a existir mais. O poeta dá o amor à palavra: ao receber o amor que o poeta lhe dá, a palavra também recebe o poeta e deixa que ele viva nela. E assim o poeta já não vive apenas dentro dele, mas vive fora, nas coisas, no mundo. Van Gogh deu amor às tintas, e estas o receberam amando-o. E Van Gogh se metamorfoseou em girassol que nunca apodrece, mesmo que apodreçam as tintas com as quais o girassol pintado é feito.
Ódio, inveja, rancor, cobiça, vaidade...são frutos apodrecidos.Ódio, inveja...são amor apodrecido, e isto se vê facilmente no rosto , nas palavras e nas ações de quem os sente. As paixões tristes, como ensina Espinosa, são frutos apodrecidos . O ódio , o rancor, a cobiça, a vaidade...não são o fruto original,pois estes frutos não nascem da árvore da vida, da árvore da Natureza. Se tais paixões tristes existem e governam os homens, é na alma destes que tais frutos têm raízes. Não raro, estes frutos apodrecidos são a moeda pela qual se compram ou obtêm fama, poder, posses, títulos.
Somente o amor é, da árvore da vida, o fruto. Fruto que não se vende ou troca, mas que se dá, que se oferta. O poeta dá o amor sem esperar amor em troca. Ele dá o que já está nele, e não o que lhe falta. Generosidade da invenção, da alegria.
 Mas antes do fruto estar maduro, ele cresce em nós ainda verde. Ele amadurece em nós de acordo como amamos a nós mesmos, de acordo como o cultivamos cultivando-nos.E isto se faz discretamente, sem alarde, sem esperar reconhecimentos, a não ser da própria árvore que gerou o fruto. E esta nos recompensa fazendo nascer mais frutos em nós: ela nos faz nascer mais ideias, mais poemas, mais arte, mais alegria,mais afeto, mais afirmação, mais generosidade ,mais ousadia , mais  firmeza, enfim, ela faz nascer mais do mais: ela nos faz nascer nascimentos ( "na ponta do meu lápis só tem nascimento", sorri para nós o poeta).
Árvore rizomática de múltiplas raízes .Árvore sem centro, que cresce horizontalmente e nos horizonta.

2 comentários:

Flávia Campos disse...

Precisava destas palavras agora... com lágrimas lhe agradeço, professor.

Abraços,

Flávia

Elton Luiz Leite de Souza disse...

Não há o que agradecer, Flávia.
Eu é que agradeço a você e ao Manoel com suas terapias verbais!
Um abraço,