quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

a parte e o todo



"A autoconfiança do Guerreiro não é a autoconfiança do homem comum. O homem comum procura certeza aos olhos do observador e chama a isso autoconfiança. O Guerreiro procura impecabilidade aos próprios olhos e chama a isso modéstia. O homem comum está preso aos seus semelhantes, enquanto o Guerreiro só está preso ao infinito".
                                                                                                        Carlos Castañeda

O todo é mais do que a soma de suas partes.O infinito é mais do que a mera soma de partes finitas. Uma soma de finitos não produz um infinito.O infinito é um  mais de potência, é um mais de realidade;por isso, ele não pode ser convertido em um menos do que ele é, tampouco ele pode ser diminuído, pois diminuir é negar.O infinito é aquilo que não pode ser negado, e nunca o infinito nega qualquer outra coisa, seja outro infinito ou algo finito . 
O infinito é sempre afirmação. Um ser finito, diferentemente, pode ser mais do que um outro ser finito. Por poder ser mais, um ser finito também pode ser menos, dado que ele pode ser menor ou poder menos  do que um outro ser finito. O “mais” de um ser finito pode ser “menos”.O mais do finito pode ser diminuído pelo mais de um outro ser finito, isto quando tomamos o finito à parte do infinito.
 O infinito é sempre mais, nunca menos.Ele é um mais dele mesmo, já que ele é infinito : nada é mais do que ele.Quando as partes finitas lhe estão integradas, o infinito as torna mais também: as faz existirem mais, uma vez que as dota de mais potência, de mais poder de agir.
 O que é verdadeiramente maior torna maior tudo o que se integra nele, e nele vive.Algo verdadeiramente maior nunca nos faz pequenos: pensar nele é tornar maior nosso pensamento.O absolutamente infinito é um mais que só produz mais, nunca o menos.Ele é mais do que a mera soma nossa. 
Todavia, como expressão singular dele, somos esse mais que não nos nega ou nos está fora, uma vez que esse mais nos está imanente, e que é a essência do nosso desejo.
Nossa essência singular também é um todo: ela é mais do que a mera soma de nossas partes extensivas. Mesmo nosso corpo pode ser compreendido como um todo que, enquanto tal, é mais do que suas partes. E é por isso que , como ensina Espinosa, nós não podemos saber tudo o que nosso corpo pode.Nosso espírito ou idéia é mais do que a soma das idéias que fazem parte dele.Enquanto todo, nossa idéia é mais do que a soma das idéias que são partes dela porque, enquanto todo, nossa idéia é uma atividade: a atividade de pensar.Nossa essência é mais porque ela também é uma parte singular do absolutamente infinito  que existe mais do que ela, mas que não a torna menor por lhe ser uma parte: ao contrário, a torna maior, maior em potência e atividade, de tal modo que, integrados no que é mais, somos sempre maiores do que nós mesmos.Ao contrário, tornamo-nos menores do que nós mesmos quando nos imaginamos um todo à parte, sem ser parte de um todo que nos seja mais e que, expressando-o, possamos ser mais existindo nele.
Enfim,o mais que expressa o todo não deve ser confundido com o mais enquanto operação matemática. Na matemática, o mais  se opõe ao menos.O mais do todo não é o de uma coisa, ele é o mais que é uma coisa: não uma coisa estática e imóvel, morta; mas uma coisa que é processo, devir,vida.
 Esse mais não pode ser diminuído por  outra coisa.É esse mais que deve ser conquistado como aquilo que verdadeiramente nos aumenta sem que para isso outra coisa precise ser diminuída.Em contraste, o mais das coisas que podem ser diminuídas não raro nos diminui quando as cobiçamos a qualquer preço, uma vez que o mais delas nunca parece ser o suficiente.
Um todo verdadeiramente todo,um todo verdadeiramente potente, nunca é um todo fechado, como um conjunto com contornos precisos e limites exatos. Um todo verdadeiramente potente, vivo, é como um horizonte: ele é abertura que  "desabre",como diz Manoel de Barros,  tudo o que dele faz parte. 










2 comentários:

João disse...

Terminei a leitura junto com o fim da música. Coincidência? Harmonia. Belas escolhas!

Elton Luiz Leite de Souza disse...

Um grande abraço, João!
(sei que você gosta muito do piano, e o do Bil Evans é um dos meus preferidos: cada parte, cada nota, existe em razão de um todo, a melodia, que cada parte singularmente expressa, conquistando um estilo)