Hoje me veio à boca uma palavra que há muito eu não dizia. Andam me faltando as oportunidades para dizê-la, embora também fossem raras as oportunidades para dizê-la na época em que eu , como aluno, a dizia - pois a disse a poucos, pouquíssimos. Eu mesmo, não sei se merecendo, já fui designado recentemente por essa palavra, pois hoje sou professor. Embora seja honroso ser por esse nome chamado, nada se iguala a poder ter alguém a quem chamar por esse nome, que será sempre o professor do professor, fazendo-nos não esquecer que o aprender precede todo ensinar.
Hoje, como dizia, eu caminhava pela rua quando vi, vindo na minha direção, um senhor de cabelos muito brancos, como neve a adornar altos picos. Aliás, creio que apenas em homens elevados, e que auxiliam os outros a se elevarem, deveria nascer tal cobertura branca. Não obstante sua vida muito vivida, tal senhor se mostrava altivo, e seu olhar parecia estar lá naquele lugar que somente o espírito desperto alcança, e onde sempre há coisas novas para ver , descobrir e colher. Quando ele estava bem perto, pude enfim dirigir-me a ele, dizendo a tal palavra que há muito eu não dizia: “Mestre!”. Quando a dizemos a quem a merece, nada há de submissão em seu sentido. Ao contrário, merece esse nome quem ajuda a despertar , como dizia Espinosa, no olho de cada um o olhar que lhe é próprio, olhar este que nos ajuda a ver para além de nós mesmos.
Então, o Mestre me viu, reconheceu-me e sorriu. Estendeu-me a mão, encontrando a minha que já estava em sua direção. Trocamos poucas palavras. Mas nem precisavam muitas. Ele se foi, e segui meu caminho tendo agora a companhia de suas lições que ainda estavam em mim como se eu as tivesse escutado ontem, embora eu as tenha ouvido há mais de vinte anos, pois quanto mais o tempo passa mais se aviva em nós o que tem valor e mereceu ser aprendido .
Pensei comigo: “será que ele sabe o quanto suas aulas foram importantes para mim?”.
O nome do Mestre: Luiz Alfredo Garcia-Roza.
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