Quando olhamos para uma simples árvore,
vemos as raízes, o tronco, os galhos...Mas podemos perceber também cada folha,
fruto e flores. Embora una, a árvore é uma multiplicidade de coisas singulares.
Cada realidade singular não existe
sozinha, uma vez que ela está conectada à árvore: a seiva atravessa o tronco e
chega às folhas. Sem a seiva que transporta o alimento retirado da
terra pelas raízes da árvore , as folhas secariam. Por outro lado, sem as
folhas a árvore não respiraria. As flores abrem-se nos galhos, porém em cada
flor que se abre é a própria árvore que também floresce. Os frutos são produto
da árvore, mas é a semente do fruto que guarda a continuidade da árvore .
Nossa percepção consegue captar
apenas as realidades que estão conectadas, porém ela não consegue apreender a
própria conexão. Pois é isto uma árvore: uma rede de conexões que se
retroalimenta a partir do que suga da terra e recebe do céu. Assim, a própria
árvore é uma conexão do céu com a terra.
Para que nosso pensar capte não só as
singularidades isoladas mas a conexão entre elas, é necessário que ele também
se faça conexão não só entre ideias isoladas , e sim entre ideias , afetos
e sentires: é preciso que ele mesmo se veja como singularidade cuja seiva que o
alimenta vem da terra e do céu.
Espinosa faz uma distinção entre
Natureza Naturante e Natureza Naturada. Porém ele não está falando de duas
naturezas, mas de uma só. A Natureza Naturante é o princípio de conexão entre todas as coisas, ao passo que
a Natureza Naturada é a percepção desse princípio
em cada coisa singular gerada pela própria Natureza como Potência Absolutamente
Infinita ou Rizoma Infinito.
Cada realidade singular é a expressão
de uma conexão que a liga a tudo o que existe: cada folha da árvore se conecta
não só ao galho , pois por intermédio do
galho cada folha se conecta à árvore inteira para assim permanecer conectada a
si mesma. E o galho, por sua vez, se conecta ao tronco, e este às raízes, que
alcançam as folhas , flores e frutos por intermédio dos troncos e dos galhos.
A Ética de Espinosa nos mostra que
cada realidade singular não pode ser compreendida por si mesma apenas, mas em
conexão com a natureza inteira da qual é uma expressão singular em relação com
outras realidades singulares.
Uma singularidade nunca é algo isolado ou uma realidade à parte. Delirante seria a folha que imaginasse poder existir sem a árvore...
Uma
singularidade é sempre a expressão de uma conexão que a une a uma multiplicidade , sem a qual ela não
pode existir e tampouco ser conhecida.