quinta-feira, 23 de maio de 2019

as infâncias do poeta


Quando o poeta Manoel de Barros fez 80 anos, um editor lhe pediu três memórias: da infância, da vida adulta e , principalmente, da velhice. Passado algum tempo, o poeta enviou o primeiro livro: “Memórias da primeira infância”. Meses depois, outro livro o poeta enviou: “Memórias da segunda infância”. Mais um tempo depois, o poeta fez nascer  outro livro: “Memórias da terceira infância”. E não enviou mais nada... Até que o editor criou coragem e perguntou: "Manoel, cadê a memória da vida adulta e da velhice?" O poeta respondeu mais ou menos o seguinte: "só tive infância. A velhez nunca me pegou. A velhez não é uma idade, a velhez é quando os dias vividos se tornam um peso, não importando a idade que se tenha,  e se teme pelo amanhã com medo de não se suportar seu peso. Eu nunca carreguei peso: sempre fui andarilho . A única coisa que carrego é meu chapéu. Eu moro debaixo dele, e sobre meu chapéu  mora um casal de pardais  que nele  fez um ninho. Há ovos no ninho sendo chocados, como dentro de mim dias novos”.





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