A admiração que o povo grego tinha por
Sócrates não se devia a discursos ou meras palavras por ele ditas. Muitos até
zombavam de frases tipo “Conheça-te a ti mesmo” ou “Só sei que nada sei.” Não
era por frases assim que Sócrates era considerado filósofo pelo povo. Àquela
época , todo cidadão também era, por dever , soldado ( não no sentido que esta
palavra tem hoje). A democracia tinha
muitos inimigos externos. Era preciso defendê-la. Os exércitos dos outros povos
quase sempre eram compostos por servos e escravos obrigados a lutar por medo e subserviência a um Déspota que os subjugava e os forçava a dar a vida por ele( evocando um Deus do
qual o Déspota se dizia o “eleito”) . Mas do exército de Atenas faziam parte cidadãos
livres lutando pela sobrevivência da democracia, pois apenas homens livres
lutam livremente pela democracia e entendem sua necessidade. De um tal exército
jamais faria parte alguém que pensasse como o “Capitão-Bozo”.
Como todo grego daquela época, Sócrates também era um cidadão-soldado. Muitos o queriam na
retaguarda, protegido, dedicando-se exclusivamente a pensar estratégias para o
combate, valendo-se de sua elevada capacidade para teorizar. Mas Sócrates não
apenas recusava tal papel de “general das ideias”, como colocava-se à frente da
infantaria guiando os mais jovens, sendo o primeiro no enfrentamento contra o
inimigo bárbaro. Sócrates venceu inúmeras batalhas sem
aceitar prêmios ou medalhas em troca. Era no campo de batalha que ele provava
ser o que dizia ser, filósofo, sem faltar à coragem que o pensar pede para ser
também ação , mesmo correndo riscos. O
libertário Diógenes, o estoico Marco
Aurélio, o poeta-filósofo Lucrécio , o democrata Espinosa e até mesmo o
insubmisso Nietzsche se reconhecem nesse Sócrates-guerreiro como exemplo para
outras batalhas em defesa do pensamento , da arte e da vida, cujas armas são as
ideias. Tal Sócrates é muito diferente daquele “depreciador da existência”, o
“Sócrates-moralista”, que o monarquista
Platão academizou em seus livros, pondo-o longe da Vida.
("máquina de guerra" cuja arma não mata, liberta).
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