sábado, 15 de dezembro de 2018

máquinas de guerra


A admiração que o povo grego tinha por Sócrates não se devia a discursos ou meras palavras por ele ditas. Muitos até zombavam de frases tipo “Conheça-te a ti mesmo” ou “Só sei que nada sei.” Não era por frases assim que Sócrates era considerado filósofo pelo povo. Àquela época , todo cidadão também era, por dever , soldado ( não no sentido que esta palavra  tem hoje). A democracia tinha muitos inimigos externos. Era preciso defendê-la. Os exércitos dos outros povos quase sempre eram compostos por servos e escravos obrigados a lutar  por medo e subserviência a um  Déspota  que os subjugava e os forçava  a dar a vida por ele( evocando um Deus do qual o Déspota se  dizia  o “eleito”) .  Mas do exército de Atenas faziam parte cidadãos livres lutando pela sobrevivência da democracia, pois apenas homens livres lutam livremente pela democracia e entendem sua necessidade. De um tal exército jamais faria parte alguém que pensasse como o “Capitão-Bozo”.
Como todo grego daquela  época,  Sócrates também era  um cidadão-soldado. Muitos o queriam na retaguarda, protegido, dedicando-se exclusivamente a pensar estratégias para o combate, valendo-se de sua elevada capacidade para teorizar. Mas Sócrates não apenas recusava tal papel de “general das ideias”, como colocava-se à frente da infantaria guiando os mais jovens, sendo o primeiro no enfrentamento contra o inimigo bárbaro. Sócrates venceu inúmeras batalhas    sem aceitar prêmios ou medalhas em troca. Era no campo de batalha que ele provava ser o que dizia ser, filósofo, sem faltar à coragem que o pensar pede para ser também ação , mesmo correndo  riscos. O libertário  Diógenes, o estoico Marco Aurélio, o poeta-filósofo Lucrécio , o democrata Espinosa e até mesmo o insubmisso Nietzsche se reconhecem nesse Sócrates-guerreiro como exemplo para outras batalhas em defesa do pensamento , da arte e da vida, cujas armas são as ideias. Tal Sócrates é muito diferente daquele “depreciador da existência”, o “Sócrates-moralista”, que o monarquista  Platão academizou em seus livros, pondo-o longe da Vida.

("máquina de guerra" cuja arma não mata, liberta).



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