sábado, 28 de julho de 2018

Procustos, ontem e hoje


No mito, Procusto era um personagem que oferecia uma “cama”  fabricada por ele às pessoas que passavam cansadas  por uma estrada. Quando as pessoas se deitavam na tal cama, porém,  acontecia algo estranho: ninguém cabia direito nela. Quando  a pessoa era maior do que a cama , Procusto pegava um machado e decepava a   cabeça e os pés excedidos. Quando, ao contrário, a  pessoa  era menor  , Procusto   amarrava as pernas e os braços dela com correntes ,  esticando brutalmente   até desmembrá-los...  Ninguém sobrevivia àquela cama  transformada em túmulo: querendo que  cada um se amoldasse  à força, Procusto acabava matando todo mundo.  Quando as pessoas reclamavam, Procusto pegava uma régua e media com   rigidez a cama, e dizia: “A cama é   perfeita, exata: cada lado é idêntico ao outro . A régua não mente! O defeito está em vocês : diferentes e heterogêneos. Amoldem-se , mesmo que se violentando, e caberão na minha Verdade.” A cama de Procusto pode receber  vários  outros nomes:  “Minha Opinião”, “Meu Partido”,  “Meu Credo” ...O que não couber   em tais “fôrmas”, Procusto  vingativamente corta, nega, mata – física  ou simbolicamente .  Procusto  odeia tudo que “não se pode passar régua”, diria Manoel de Barros. Na política, os Procustos estão sempre tramando decepar a cabeça da honestidade a qualquer preço, pois ela não cabe em suas índoles estreitas.


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