“É
preciso proteger os fortes dos fracos.” Essa frase do Nietzsche se aplica a
várias coisas, inclusive ao futebol . Na bola, o forte é mais do que mero atleta, sendo também criativo, artístico, pensador. O criativo
respeita as regras, mas não se limita a elas, pois ele exerce uma potência singular : sua
arte de jogar/pensar. Por isso , ele também sabe inventar o improvável que não está previsto na
“regra acostumada”, sem fazer de sua
invenção uma burla ou infração. Quando o
Leônidas da Silva inventou a “bicicleta”, o juiz parou sem saber o que fazer,
pois Leônidas “inventou um comportamento” apoiado apenas naquilo que “pode um
corpo”, como já dizia Espinosa. Em geral,
o craque-criativo-pensador sofre violências e agressões. Do ponto de vista meramente
físico, o jogador que entra violentamente no craque, imaginando que assim o
vence, só aparentemente o violento-brigão é forte. Do ponto de vista do
futebol, o mero violento é fraco. Forte
é o pensador-criador, e é por isso que ele precisa ser protegido. Quando se
aplica o cartão amarelo ou vermelho para
proteger o forte, é porque se quer proteger igualmente o futebol
enquanto prática mais do que meramente de força física. Talvez tal cuidado pudesse
nos inspirar na política: proteger os fortes
(os que têm ideias fortalecedoras das regras democráticas), dos fracos (os que
têm apenas a força do dinheiro, da mídia ou da mera promessa de violência bruta
mesmo...). Nosso voto será nossa sentença: proteger o forte ou o fraco?
Baudelaire
dizia: “seja sempre poeta, mesmo em prosa”. Mesmo sem ler Baudelaire, Leônidas
da Silva aprendeu a lição: “sendo um poeta, mesmo com a bola”.
(
foto: Leônidas e sua “bicicleta”)
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