sábado, 16 de dezembro de 2017

voar fora da asa

poesia é voar fora da asa.
Manoel de Barros

chegamos perto da metafísica. E voltamos.
Manoel de Barros


Quando vemos  os pássaros voando, sobretudo aqueles de grandes asas que planam  bem acima do chão, parece que  é fácil fazer o que fazem. Eles planam calmos, estoicamente sobre os acontecimentos. Parecem imóveis, não batem mais as asas, porém voam em espirais concentradas, pois aprenderam a se compor com o vento.
Desde pequenos, foi caindo do ninho que aprenderam o salto. Foi tombando que depois subiram. Mas o voar não nasce do tombo, pois o tombo nada mais é do que o efeito de um se alçar que ainda não é senhor de si, que descrê de si mesmo, que ainda não aprendeu-se, inventando-se livre, não obstante os riscos.
Não é fácil conquistar um meio, para assim mover-se nele, ampliando o poder de agir próprio. Sobretudo quando esse meio parece invisível, sendo  realidade que pés e mãos não tocam, apenas o pensar e o sentir o sabem deles próximo.

Assim é também o pensamento: é com o tombo empírico que aprendem a voar/pensar os metafísicos. Estes não têm a pressa ou o desespero dos que migram pragmaticamente , tampouco  voam em formação uniformemente objetiva  como os que buscam outras terras para serem os donos. 
Os que voam conquistando um meio infinito   se desterritoralizam  do chão conhecido e se reterritorializam no voo que inventam , e no qual perseveram.  Eles voam sobre o território físico conquistando o meio intangível sempre aberto. Por vezes, atravessam as nuvens e bebem o rascunho da chuva antes de ela ser fluxo, que amanhã , apenas amanhã, descerá à  terra, tornando-se mar e rio. 


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