segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

ter o que dizer...

Segundo o filósofo Kierkegaard, toda autêntica fala é sempre uma "comunicação indireta", na medida em que ela não deve ser apenas nosso ego a falar, pois  em nossa fala, se ela tem de fato algo a dizer,  deve estar a fala de outrem , a qual ouvimos ou lemos, com a qual aprendemos. Toda fala que possibilita outras falas suscita variações na apreensão singular de seu sentido. Por isso, tais falas nunca pedem ou vigiam para serem reproduzidas como se fossem textos imaculados. Mas não é essa outra fala   que deve falar na nossa fala, apagando-a; devemos ser nós mesmos a falar nossa fala, agenciados com a fala de outrem, da qual a nossa será uma expressão, uma variação, e não uma simples xérox. Somente assim, em comunicação indireta, temos realmente o que dizer, e não mera opinião. E aquele para o qual falamos ou escrevemos, leitor ou aluno,  pode também ir àquele a partir  do qual falamos, para assim ele mesmo construir sua fala, mesmo que divirja da nossa. Toda fala que diz algo autêntico nasceu de um ouvir ativo que aprendeu a ouvir a fala do outro, mesmo que não entenda tudo,seja esse outro um livro, um filme, um poema, uma criança, um louco, o cosmos... ou mesmo o silêncio.



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