Segundo
o filósofo Kierkegaard, toda autêntica fala é sempre uma "comunicação
indireta", na medida em que ela não deve ser apenas nosso ego a falar,
pois em nossa fala, se ela tem de fato
algo a dizer, deve estar a fala de
outrem , a qual ouvimos ou lemos, com a qual aprendemos. Toda fala que
possibilita outras falas suscita variações na apreensão singular de seu
sentido. Por isso, tais falas nunca pedem ou vigiam para serem reproduzidas
como se fossem textos imaculados. Mas não é essa outra fala que deve falar na nossa fala, apagando-a;
devemos ser nós mesmos a falar nossa fala, agenciados com a fala de outrem, da
qual a nossa será uma expressão, uma variação, e não uma simples xérox. Somente
assim, em comunicação indireta, temos realmente o que dizer, e não mera opinião. E aquele para o
qual falamos ou escrevemos, leitor ou aluno,
pode também ir àquele a partir do
qual falamos, para assim ele mesmo construir sua fala, mesmo que divirja da
nossa. Toda fala que diz algo autêntico nasceu de um ouvir ativo que aprendeu
a ouvir a fala do outro, mesmo que não entenda tudo,seja esse outro um livro,
um filme, um poema, uma criança, um louco, o cosmos... ou mesmo o silêncio.
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