terça-feira, 25 de julho de 2017

o fio e o novelo

Pensamos em novelo.
Maria Gabriela Llansol
                                                           
“Con-fiar” significa “ fiar junto”. Confiar não é apenas uma disposição psicológica, ela pode ser mais do que isso, como virtude : o pintor  confia nas tintas, o poeta  confia na poesia, o ético confia na ética, o democrata confia na democracia,  apesar dos motivos atuais para a desconfiança. Fiar não é traçar linhas retas no espaço, fiar é inventar "linhas de fuga" que dão sentido ao tempo: “ a reta é uma curva que não sonha” (Manoel de Barros). “Novelo” significa : “novo elo”. Quem confia,  tece : cria novos elos com o fio que puxou de um novelo , que é sempre fonte para novos elos e agenciamentos.

Arthur Bispo do Rosário vivia  preso no labirinto de seus delírios. Porém, a arte o fez achar um "fio de Ariadne" : em cada lençol , em cada roupa que lhe punham como louco e doente,  ele soube achar nessas coisas o novelo ainda ali vivo, como saúde do espírito. Ele viu o novelo que  ainda vivia nas coisas,  como memória, imaginação, potência, invenção, virtualidade, enfim, vida.... Dos fios do uniforme que vestia o louco, ele desfez a forma, libertou o fluxo dos fios, libertando a si mesmo nesses fluxos,  e com estes  inventou , tecendo, a capa multicolorida de um rei.

Arthur Bispo do Rosário e sua "capa" ou "manto" - Museu do Inconsciente

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