Pensamos em novelo.
Maria Gabriela Llansol
“Con-fiar”
significa “ fiar junto”. Confiar não é apenas uma disposição psicológica, ela
pode ser mais do que isso, como virtude : o pintor confia nas tintas, o poeta confia na poesia, o ético confia na ética, o
democrata confia na democracia, apesar
dos motivos atuais para a desconfiança. Fiar não é traçar linhas retas no
espaço, fiar é inventar "linhas de fuga" que dão sentido ao tempo: “
a reta é uma curva que não sonha” (Manoel de Barros). “Novelo” significa :
“novo elo”. Quem confia, tece : cria
novos elos com o fio que puxou de um novelo , que é sempre fonte para novos
elos e agenciamentos.
Arthur
Bispo do Rosário vivia preso no labirinto
de seus delírios. Porém, a arte o fez achar um "fio de Ariadne" : em
cada lençol , em cada roupa que lhe punham como louco e doente, ele soube achar nessas coisas o novelo ainda
ali vivo, como saúde do espírito. Ele viu o novelo que ainda vivia nas coisas, como memória, imaginação, potência, invenção,
virtualidade, enfim, vida.... Dos fios do uniforme que vestia o louco, ele
desfez a forma, libertou o fluxo dos fios, libertando a si mesmo nesses fluxos, e com estes
inventou , tecendo, a capa multicolorida de um rei.
Arthur Bispo do Rosário e sua "capa" ou "manto" - Museu do Inconsciente |
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