sábado, 25 de janeiro de 2025

Manoel & Espinosa: PoÉtica

 

O poeta Manoel de Barros se formou em Direito. No entanto, seu primeiro cliente foi também o último. Tratava-se de um comerciante    acusado de desonestidade no uso da balança : na hora de pesar a mercadoria , sorrateiramente ele apoiava o dedo para aumentar o peso de forma fraudulenta, e assim lucrar com o logro.

Uma senhora prejudicada pela desonestidade do mau comerciante    resolveu  abrir um processo contra ele. O processo seria o embate  da palavra mentirosa do  comerciante   fraudador contra a palavra verdadeira da mulher corajosa  que o acusava, auxiliada pela má  fama do denunciado   testemunhando contra ele.

Manoel de Barros vivia uma situação financeira difícil à época: havia nascido seu primeiro filho, muitas despesas envolvidas. Além disso, o terno e a gravata eram  uma prisão para ele , assim como a gaiola para o passarinho que ama  “voar fora da asa”.

 Na primeira vez em que esteve com o tal comerciante , Manoel pediu para conversar a sós com  ele, e indagou: “É verdade o que dizem ? Você faz trapaça para burlar  o peso?” E o dissimulado respondeu: “É verdade. Mas fique tranquilo: pagarei  bem, e sei que você precisa de dinheiro. É só inventar uma mentira bem contada que me favoreça.”

Manoel pediu  licença   ao farsante  e foi conversar com o dono do escritório de advocacia. Enquanto desfazia o nó da gravata , o poeta disse: "Desisto do caso, não vou defender essa mentira.  A invenção de que gosto é  outra”.

Uma coisa é a invenção que nega a realidade, como as fake news dos obscurantistas;  outra bem diferente é a invenção poética que amplia o sentido da realidade, tanto a realidade externa quanto a interna.

A invenção neg@cionista apequena e aprisiona; a invenção  poética   horizonta e liberta.

Quando Manoel afirma que “Poesia pode ser que seja fazer outro mundo” , ele quer dizer que a poesia nasce da mesma fonte da qual brota a  ética.


( Imagem: Espinosa & Manoel :  PoÉtica = Poesia + Ética)



 

Luiz & Manoel:



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