O poeta Manoel de Barros se
formou em Direito. No entanto, seu primeiro cliente foi também o último.
Tratava-se de um comerciante acusado de desonestidade no uso da
balança : na hora de pesar a mercadoria , sorrateiramente ele apoiava o dedo
para aumentar o peso de forma fraudulenta, e assim lucrar com o logro.
Uma senhora prejudicada pela
desonestidade do mau comerciante resolveu abrir um
processo contra ele. O processo seria o embate da palavra mentirosa do comerciante fraudador contra a palavra
verdadeira da mulher corajosa que o
acusava, auxiliada pela má fama do
denunciado testemunhando contra
ele.
Manoel de Barros vivia uma
situação financeira difícil à época: havia nascido seu primeiro filho, muitas
despesas envolvidas. Além disso, o terno e a gravata eram uma prisão para ele , assim como a gaiola para
o passarinho que ama “voar fora da asa”.
Na primeira vez em que esteve com o tal comerciante
, Manoel pediu para conversar a sós com ele, e indagou: “É verdade o que dizem
? Você faz trapaça para burlar o peso?”
E o dissimulado respondeu: “É verdade. Mas fique tranquilo: pagarei bem,
e sei que você precisa de dinheiro. É só inventar uma mentira bem contada que
me favoreça.”
Manoel pediu licença
ao farsante e foi conversar
com o dono do escritório de advocacia. Enquanto desfazia o nó da gravata , o
poeta disse: "Desisto do caso, não vou defender essa mentira. A
invenção de que gosto é outra”.
Uma coisa é a invenção que nega a
realidade, como as fake news dos obscurantistas; outra bem diferente é a invenção poética que
amplia o sentido da realidade, tanto a realidade externa quanto a interna.
A invenção neg@cionista apequena
e aprisiona; a invenção poética horizonta
e liberta.
Quando Manoel afirma que “Poesia
pode ser que seja fazer outro mundo” , ele quer dizer que a poesia nasce da
mesma fonte da qual brota a ética.
( Imagem: Espinosa & Manoel :
PoÉtica = Poesia + Ética)
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