A ideia de que o
Brasil é um país “em desenvolvimento” é sempre colocada em oposição a duas
outras espécies de países: os já “desenvolvidos” ( Europa e EUA) e os “subdesenvolvidos”
( África e América Latina, sobretudo).
O Brasil estaria
no “meio”, como se o mundo fosse uma fila : quem está no meio dela
, como nós, deve olhar para frente, seguir o “líder”, e não olhar muito
para quem está atrás, mesmo que sejam nossos irmãos.
Essa visão
nasceu da “ideologi4 do progresso”, que colocou a Europa e os EUA como modelos
de sociedade a serem seguidos.
Essa ideologi4
vende a ilusão de que se seguirmos os líderes um dia chegaremos aonde eles estão.
Mas será que os países que são hoje desenvolvidos um dia foram
subdesenvolvidos?
O que
caracteriza os países em desenvolvimento e subdesenvolvidos é que eles foram
objeto de exploração colonialista, incluindo a escravidão. Já a maioria dos países chamados desenvolvidos foram aqueles que exploraram,
como colônia, os que hoje são subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.
Os EUA foram
colônia no passado, mas os explorados eram sobretudo os negros que lá viviam.
A visão de que a
história das sociedades é uma fila rumo a uma realidade na qual a Europa e os EUA já estão, essa visão aliena
os povos da América Latina de se verem lado a lado e ameaça a existência dos
povos indígenas ( cujas terras são um
obstáculo à exploração econômica , impedindo o tal “progresso”).
Devemos
suspeitar da história euroestadunidense centrada e redescobrir a geografia política. Ou, como
diz Deleuze, a geofilosofia.
A geofilosofia nos põe diante do plano horizontal de
nossas vizinhanças, e nos faz ver que
não temos futuro se extinguirmos nossos ancestrais e suas florestas .
Os países desenvolvidos não são nosso futuro,
na verdade alguns deles são aqueles que nos roubam a possibilidade de um
futuro, o nosso e o de nossa vizinhança. Inclusive, o tal líder do “mundo desenvolvido” colocou um muro farpado medieval em suas fronteiras para manter seus
vizinhos pobres à distância...
A geofilosofia nos mostra que a ideologi4 do
progresso euroestadunidense centrada, hoje reforçada pelo culto fundamentalist4 da “prosperidade”, essa ideologi4 sinistr4 escamoteia um presente predador que ameaça o
futuro do próprio planeta .
Creio que a resistência a esse quadro passa pela formação de blocos-alianças e agenciamentos
de países e povos
que se reconheçam vizinhos na construção de um mundo pluri e multipolar.
Nossa referência
não deve ser EUA ou Europa, mas as aldeias dos nossos povos originários como espaços integrados à
Natureza, a mesma de que fala Espinosa.
Acordei hoje me
lembrando desses versos de Maiakóvski:
“Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.
Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las.
Rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.”
( este livro é apenas uma sugestão)
Trecho do filme "O declínio do império americano":
Trecho da música : “Com Deus do nosso lado” ( de Bob Dylan):
“O país do qual eu vim
Se chama Meio Oeste
Fui ensinado e criado lá
Para as leis obedecer
E a terra em que eu vivo
Tem Deus do seu lado
Oh,os livros de história contam
Eles contam isso tão bem
O ataque da cavalaria
Os índios que caíram
O ataque da cavalaria
Os índios que morreram
Oh,o país era jovem
Com Deus ao seu lado.
A Guerra Hispano-Americana
Teve o seu dia
E a Guerra Civil também
Logo se foi
E os nomes dos heróis
Que fui obrigado a memorizar
Com armas em suas mãos
E Deus ao seu lado.
A Primeira Guerra Mundial,rapazes
Ela veio e se foi
A razão para a luta
Eu nunca consegui entender
Mas eu aprendi a aceitá-la
Aceite-a com orgulho
Pois você não conta os mortos
Quando Deus está do seu lado.
A segunda Guerra Mundial
Chegou ao fim
Nós perdoamos os alemães
E então,nós éramos amigos
Embora eles tenham assassinado seis milhões
Nos fornos que eles fritaram
Os alemães agora também
Tem Deus ao seu lado.”
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