sábado, 13 de abril de 2024

Os hiperbóreos...

 

Segundo Nietzsche, há filosofias do “sol nascente” : nestas filosofias,  o pensamento  é como o sol que nasce e ilumina a natureza que a noite obscura ocultava. As filosofias do sol nascente coincidem com a própria origem da filosofia:  assim foi a filosofia  dos pré-socráticos, como um sol nascente a revelar a natureza, a “physis”.

 Mas  existem também filosofias do “sol poente”, filosofias do ocaso: elas coincidem com a filosofia europeia, na qual este mundo em que vivemos hoje foi , em grande medida, gestado. Essas filosofias substituíram a luz nascente da physis poética , tal como existia em Tales ou Heráclito,  pela luz poente da razão tecnocrática  , sendo o niilismo reativo  a sombra que acompanha essa luz fria , utilitária e despoetizada.

Porém  há ainda , segundo Nietzsche, a “filosofia dos hiperbóreos”. Entre os gregos , “bóreo” era o nome do vento mitológico conhecido como “vento do norte”. Esse vento por vezes também era chamado de “vento da morte” ( nos vários sentidos que a morte tem). Assim, o hiperbóreo era um lugar que ficava  além do que podia alcançar o vento bóreo, o vento da morte ( em grego, o prefixo “hiper” também significa: “o que está em lugar superior”).

Os gregos diziam que para as  regiões hiperbóreas iam alguns deuses, como Apolo, quando queriam recuperar  e renovar as forças. A região hiperbórea não é exatamente o norte da Europa,  e sim o limiar  desta .

Diferente do que se imagina,  não é para o norte que as bússolas apontam ; as bússolas apontam para o hiperbóreo , sobretudo as bússolas que indicam necessárias direções novas para revitalizarmos nossas forças.

O que mais caracteriza a região hiperbórea da terra é que nela o sol  jamais morre : ele está sempre no horizonte e corre sobre as montanhas,  horizontalmente,  mantendo sempre translúcido um  céu de imortal azul.  Na região hiperbórea é sempre  aurora, alvorada, amanhecer...  

“Hiperbóreos”,  assim deveriam ser  os pensadores  do futuro, acreditava Nietzsche,    para assim vencerem o vento da pulsão de morte e suas formas negacionistas, necropolíticas e niilistas,    que sempre tentam subordinar o valor da vida    ao dinheiro  e ao  mercado , incluindo o mercado da fé .

Como reconhecer um hiperbóreo? Um hiperbóreo é aquele em cujo horizonte aberto o sol da Arte , como um farol, sempre brilha intensamente  e nunca morre.

 

( imagem: capa do livro “O fazedor de amanhecer”, do poeta-hiperbóreo  Manoel de Barros; a capa e as ilustrações do livro foram feitas por Ziraldo, a quem deixamos esta pequena homenagem)




Bethânia lendo o hiperbóreo-Manoel ( trecho do filme "Língua de brincar", de Gabraz Sanna):




O hiperbóreo-Cartola:



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