domingo, 1 de abril de 2018

espinosa e a flor de lótus

Sei de todas as espurcícias do mundo,
mas do que gosto mesmo é de circo.
Manoel de Barros

A palavra “fortaleza” nos faz imaginar algo cercado por muros espessos e elevados . Em sua Ética, Espinosa realça uma virtude chamada exatamente   fortaleza (fortitudo). Mas a virtude-fortaleza em Espinosa não tem muros ou cercas, embora seja dela que pode advir verdadeira  resistência e proteção.   
"Fortaleza" procede de "força". Alguns tradutores traduzem "fortitudo" como  "força de ânimo" ou “força da vida”.Tal força não se expressa apenas em termos de músculo. O contrário do ânimo não é a morte ou a doença, mas o des-ânimo.O oposto da vida não é a morte, e sim a vida enfraquecida em seu ânimo. A fortaleza-virtude tem força, mas não é violenta; ela tem potência, porém não é soberba.
Na sabedoria oriental considera-se a flor de lótus o exemplo de fortaleza: ela não tem muros a rodeando, porém a lama não a turva.  Não obstante a sujeira em torno, a flor ensina a como perseverar na dignidade e beleza. Ela ensina com sua existência, sem precisar de palavras . No Japão antigo, o candidato a guerreiro deveria passar por uma prova, que não era meramente teórica, acadêmica: ele deveria entrar na lama, perder vaidades e presunções, ficar nela por horas ou mesmo dias, e dela somente sairia de fato um guerreiro, uma mente  liberta,  se aprendesse a lição  da flor de lótus...

(cena do filme A saga do judô, de Kurosawa:  o aprendiz de guerreiro , na lama, aprende a lição da flor de lótus)

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