domingo, 8 de abril de 2018

a peraltagem...


Quando eu era criança, bem criança, meus pais eram pobres, porém podiam me dar de presente carrinhos simples  . Eu recebia tais brinquedos e os guardava, feliz e agradecido. Mas esses brinquedos e outros  não me faziam falta, pois eu gostava era de brincar com as próprias coisas, retirando delas os sentidos acostumados . Por exemplo, gostava de pegar o chinelo de meu pai e fazer de carrinho. Como carrinho lúdico, ao chinelo não faltava nada, pois estava em meus olhos a fonte de vê-lo outra coisa diferente desta que todos viam. Nunca me fizeram falta os brinquedos, enquanto eu soube brincar com o sentido.
Quando eu era criança , portanto, havia o carrinho de brinquedo e o brinquedo que eu inventava com a própria realidade.  Brincar com o carrinho de plástico era bom, mas brincar com o chinelo feito carrinho era mais do que brincar: era ato poético-político, ainda que inocente.
Hoje, penso que ser educador ou artista  é retornar àquele lúdico alegre e inocentemente subversivo, para assim reinventar novo sentido para esse real dado. Com alegria espinosista e peraltagem manoelina, quem sabe subverter  aquilo que os pouco imaginativos chamam de mundo objetivo , tristemente acostumado.



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