Quando
eu era criança, bem criança, meus pais eram pobres, porém podiam me dar de
presente carrinhos simples . Eu recebia
tais brinquedos e os guardava, feliz e agradecido. Mas esses brinquedos e
outros não me faziam falta, pois eu
gostava era de brincar com as próprias coisas, retirando delas os sentidos
acostumados . Por exemplo, gostava de pegar o chinelo de meu pai e fazer de
carrinho. Como carrinho lúdico, ao chinelo não faltava nada, pois estava em
meus olhos a fonte de vê-lo outra coisa diferente desta que todos viam. Nunca
me fizeram falta os brinquedos, enquanto eu soube brincar com o sentido.
Quando
eu era criança , portanto, havia o carrinho de brinquedo e o brinquedo que eu
inventava com a própria realidade.
Brincar com o carrinho de plástico era bom, mas brincar com o chinelo
feito carrinho era mais do que brincar: era ato poético-político, ainda que
inocente.
Hoje,
penso que ser educador ou artista é
retornar àquele lúdico alegre e inocentemente subversivo, para assim reinventar
novo sentido para esse real dado. Com alegria espinosista e peraltagem
manoelina, quem sabe subverter aquilo
que os pouco imaginativos chamam de mundo objetivo , tristemente acostumado.
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