segunda-feira, 25 de maio de 2015

as rebeldias do poeta



(trecho do livro)

- Rebeldias
Quando adolescente,  Manoel de Barros conhece Oswald de Andrade e faz suas primeiras leituras de Rimbaud. Mais do que simples leituras, foram  verdadeiras experimentações com o verbo o que se estabeleceu nesse contato.  Deriva daí a percepção , que se enraíza em Manoel de Barros,  das estreitas relações entre a arte e uma certa rebeldia da qual só o artista é capaz: a rebeldia contra o clichê. Eis como o  poeta procede: 

Pegar certas palavras já muito usadas, como as velhas  prostitutas, decaídas,sujas de sangue e esterco  pegar essas palavras e arrumá-las  num poema , de forma que adquiram nova virgindade. Salvá-las, assim, da morte por clichê.”( Sobreviver pela palavra, Gramática expositiva do chão, p. 308).
    
     “Salvar as palavras ordinárias” de sua prostituição utilitária, pois a submissão ao clichê faz da palavra uma prostituta. Por isso, crê o poeta,     
                  
  “temos de molecar o idioma para que não morra de clichê”.

E mais: “a grande poesia há de passar virgem por todos os seus estupradores.”    Essa rebeldia também consiste em “perder a inteligência das coisas para vê-las”, prática esta que Manoel de Barros confessa ter colhido em Rimbaud.
“Perder a inteligência”: despir os seres e acontecimentos  das vestes das palavras utilitárias e conceitos universais, para assim ver o que José Gil designa de “imagem-nua”.Esta consiste no que resta dos seres quando retiramos o aparato  conceitual  que a inteligência projeta sobre eles, assim apagando suas respectivas diferenças e singularidades. A “imagem-nua” : experimentação estética do real. 

Libertar a percepção do predomínio da inteligência significa imbuí-la  de uma potência exploratória e inventiva , e assim fazê-la um instrumento do pensamento questionador.  







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