Fala-se muito
hoje do “niilismo”. Queria trazer outra perspectiva sobre o assunto, em razão
da ascensão de certa mentalidade niilista que vem se manifestando sobretudo na política
e na religião, no Brasil e no mundo.
“Niilismo” vem
de “nihil” , expressão que costuma ser traduzida por “nada”. O
niilista, dizem, é aquele que não crê em nada.
Mas “nihil” também pode ser traduzido por “nulo”, sentido esse mais adequado para
traduzir o comportamento e mentalidade niilistas. Pois o niilista é aquele
cujas palavras, ações e visão de mundo são nulos, isto é, não têm autenticidade
vital.
O niilista não é
um ateu, o niilista é aquele que até pode falar muito em Deus, teológico-politicamente.
Mas sua concepção de Deus é nula, pois seu Deus ,ao
invés do amor, é evocado para vinganças
e ódios.
O niilista não é
um deprimido, o niilista pode ser até muito piadista (como o
inelegível propondo a Moraes ser seu vice...), mas sua alegria é nula . É uma
“alegria que nasce da tristeza”, como já diagnosticava Espinosa; e Nietzsche
chamava de “niilismo reativo” a essa forma de vida triste.
O niilista não é
um apolítico, ele se envolve e faz política, porém sua política é nula: prega ódio à democracia.
Um dos
antônimos de “nulo” é “fecundo” ou “potente”. O niilista é um infecundo: no pensar, no agir e no falar.
O
niilista é aquele cujo viver é nulo, mesmo que viva cem anos. E enquanto
ele viver, viverá ameaçando anular a vida dos outros...
Sob a
ânsia de juros e lucro da mentalidade capitalista , move-se uma
pulsão-niilista. Essa pulsão, prima da pulsão de morte, reduz tudo a mera mercadoria para
preencher o vazio de nulas vidas com
consumos escapistas.
Mas nada
atrai tanto o niilista quanto o ódio e a guerra. Guerra e ódio, a destruição
cega, tornam objetiva a nulidade existencial do niilista. Território, petróleo,
“ataque preventivo”, Deus...tudo isso é evocado como motivo de guerra pelo
niilista. Mas o motivo mesmo é seu ódio
à vida.
Num mundo conduzido por homens niilistas, o
poder se torna máquina de ódio belicista ameaçando anulações recíprocas.
Que Gaia,
Pachamama, enfim, a Mãe-Terra com sua Fecundidade e Potência de Vida nos
protejam desses homens da guerra ressentidos, vingativos e perigosos
para toda a vida no planeta.
Obs.: Nietzsche
fala ainda do "niilismo ativo ", que nada tem a ver com o niilismo
reativo que descrevi. O princípio ao mesmo tempo ético, artístico e político do niilismo ativo é: “Só podemos destruir
sendo criadores.”
(Imagem: “O
núcleo da vida ou A criação”/ de Frida Kahlo)
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