sexta-feira, 30 de maio de 2025

A semente

 

O filósofo Leibniz dizia que se a gente prender uma semente na mão, com o tempo ela apodrece. Mas se a gente plantar a semente, cuidar e cultivar, dela nascerá uma árvore. Da árvore plantada nascerão incontáveis frutos: dentro de cada um, uma nova semente.

Se a gente plantar essas novas sementes, delas nascerão outras árvores, cada uma com inumeráveis frutos, cada fruto grávido de novas sementes.

Naquela primeira semente havia virtualmente uma floresta inteira, uma floresta-potência, assim como num simples recém-nascido   vive potencialmente   a humanidade enquanto valor vital que precisa ser cuidado e alimentado para florescer.

Pois humanidade não é uma quantidade numérica como   rebanhos, mas uma potencialidade inseparável de nossa singularidade, e   que se cultiva com educação, afeto e liberdade.

Para uma potencialidade florescer, da semente ou de uma criança, é preciso um exercício de cuidado e um espaço aberto livre de estreitezas. Quem descobre tal floresta dentro de si não aceita viver limitado por cercas: como diz Manoel de Barros,  mundos por criar desabrem dentro e saltam para fora , frutificam.

Dentro de uma ideia emancipadora    há sempre outras ideias, infinitas ideias, pois toda ideia emancipadora   é plural e múltipla, já nos ensinava Espinosa.

Educadores plantam ideias-sementes, obscurantistas se armam com motosserras ( como aquela que Milei , o ídolo da mídia corporativa brasileira, presenteou a Trump, acumpliciando-os).

 Ao falar da semente descobrindo-se floresta, Leibniz se refere simbolicamente à educação e ao seu papel crítico, criativo e emancipador.  Dentro da semente não está a floresta com suas árvores já prontas e individuadas, pois a floresta que existe dentro da semente é uma floresta em rascunho, uma floresta-embrião, que somente nasce se a semente for plantada em terra fértil e horizontada.

 Essa floresta-potência é a riqueza multivariada da vida que nasce de si mesma e frutifica perseverantemente, ao mesmo tempo singular e plural.

 

“Poeta é ser que vê semente germinar.

Nas fendas do insignificante ele procura grãos de sol.” (Manoel de Barros).

 

“O grande segredo do regime  aut0ritário consiste em enganar os homens, travestindo o medo com o nome de religião , com o que se quer sujeitá-los; de modo que eles combatem por sua servidão como se se tratasse de sua salvação.” (Espinosa)

 

( imagem: “O semeador”, de Van Gogh, que pinta o sol como a semente luminosa  da qual , erguendo-se do horizonte, um novo dia brota)























 

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