quinta-feira, 1 de maio de 2025

Dia do Trabalhador

 

No livro “1984”,  George Orwell mostra que  um  poder t1rano não se mantém apenas com a violência física, ele também se serve da violência simbólica : apagando  certas palavras  do uso público para assim tentar eliminar  também da realidade seu sentido e prática.

Parece estar acontecendo isso com a palavra “trabalhador”, que o poder do Capital tenta apagar colocando no lugar “colaborador” ,isto é,  colaborador do Capital .

Quando a França foi ocupada pelos n4zistas, eram chamados de “colaboradores” os franceses que , de forma submissa, faziam o que os dominadores n4zistas mandavam.

Não por acaso, o nome “colaborador” nasceu da boca dos patrões para designar o trabalhador que não se envolvia com sindicatos, greves, luta por direitos... “Colaborador” é, na visão do Capital, o “trabalhador homem de bem”.

No dia de hoje,  O Globo e Folha falam em   “Dia do Trabalho” , que é algo vazio, abstrato, “sem gente dentro”,  diria o poeta Manoel de Barros. O curioso é que em outras datas comemorativas eles não dizem “Dia da Medicina”, mas “Dia do Médico”, ou “Dia da Advocacia”, e sim “Dia do Advogado”, ou ainda “Dia do Ensino”, mas “Dia do Professor”. Por que no dia de hoje  a mídia corporativa tenta esconder aquele que  exerce o trabalho?  

Além disso, médico, advogado , professor também são trabalhadores: cada atividade é exercida para produzir saúde, justiça, conhecimento...Pode-se, claro, com elas ganhar dinheiro, porém o dinheiro assim ganho vem do trabalho, da produtividade com coisas reais. O Capital, ao contrário, não trabalha: ele explora quem trabalha.  

Uma das palavras mais bonitas em grego é “eudaimonia”. No coração dessa palavra está o nome “Daimon”, pois “eudaimonia” é : “estar na companhia de um bom Daimon”.  Em português,  “eudaimonia” é   “felicidade”.

 Para os gregos, assim como para nossos indígenas, a felicidade não é propriedade egoica de um indivíduo, a felicidade é agenciamento coletivo: impossível o indivíduo ser feliz se a pólis está triste, tampouco pode o indivíduo ter saúde com a pólis  doente.

O Daimon é aquele que, fazendo-nos companhia, ajuda nas travessias. Mas o Daimon só nos faz companhia se aprendermos a ser companhia.

“Companhia” vem de “com-pane”. E “pane” é, em português, “pão”. Assim, fazer companhia é  saber “dividir o pão”. Companheiros: “aqueles que dividem o pão”.

Há o pão que alimenta o corpo: quando esse falta, vem a fome.  Quando um povo não aceita  ser rebanho de tir4nos,  nasce nele    a fome por outro pão: o pão da dignidade e da justiça, pão que  tem o fermento da arte, da educação e da poesia,   pão que alimenta a luta.

 Creio que “colaborador” e “empreendedor” são termos que propagam a ideologia  de que o outro não é um companheiro, mas um “competidor”.

Mas ser trabalhador  é saber-se companheiro das lutas comuns de todo trabalhador pela conquista e partilha dos dois pães: o que alimenta o corpo e o que nutre/liberta o espírito.



Os filmes de Ken Loach são sempre uma ótima pedida para dias como hoje. Terra e Liberdade é um dos meus preferidos:




 

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