sexta-feira, 7 de julho de 2023

Evoé!

 

O nome “Dioniso” significa: “aquele que nasceu duas vezes.” Esse nome explica o seguinte acontecimento: certa vez, por ódio e vingança, vis carrascos despedaçaram Dioniso, assim imaginando que o haviam derrotado.

Porém, ao ver a cena, Zeus , divindade da ética e da justiça, sabia que havia em Dioniso uma parte imortal, dos carrascos desconhecida.  E  era essa parte imortal a semente da vida que nunca morria.

Essa parte imortal  era o coração: Zeus pegou então  o coração de Dioniso e , por ética e justiça, dele fez nascer novamente Dioniso, ainda mais vivo.

A primeira vez que Dioniso nasceu , ele veio ao mundo  chorando, como todo recém-nascido. Mas nesse segundo nascimento Dioniso veio novamente à vida  em alegria, cantando e dançando, assim mostrando que , quando nos pensavam derrotados e mortos, fazer nascer de novo em nós a  vida é a mais necessária das artes a ser criada e aprendida.

A expressão : “Dioniso, Deus das Artes”, não é adequada. Pois as pessoas sempre imaginam Deus como aquele que criou sua obra a partir do nada, já que Deus existiria antes dessa criação.

Mas não havia a arte antes de existir Dioniso, assim como não havia o amor antes de surgir Eros, ou o conhecimento antes de nascer Atena. Dioniso é a inseparabilidade entre o artista e sua obra, uma vez que a principal obra de arte a ser criada é a de (re)criar a si mesmo.

Não existia o conhecimento antes de Atena: Atena é a Potência de produzir conhecimento de diversas maneiras, e não apenas sob a forma de teoria. Os museus, por exemplo, produzem conhecimento no agenciamento singular com os objetos expostos. Eros, por sua vez,  é a Potência do afeto-amor em suas mais variadas formas.

Assim, ao invés de “Deus das Artes”, a melhor expressão para definir Dioniso é  : “Potência das Artes”, Potência essa ao mesmo tempo clínica, ética, educadora e política na sua mais alta potência revolucionária.

Poucos entre nós viveram essa Potência Dionisíaca de forma tão intensa e revolucionária como o pensador teatral  José Celso Martinez. Através do mito de Dioniso, nossa pequena homenagem a ele. Evoé!

( este livro é apenas uma sugestão de leitura)



- A voz que se ouve no início do vídeo é a do cineasta e pensador Glauber Rocha:





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