quarta-feira, 18 de novembro de 2020

o vinho, o azeite e o pão

 

Originalmente, a ideia de cultura nasceu da prática de cultivo de três plantas cujo valor é também simbólico: a vinha, a oliveira e o trigo.  A vinha é a árvore da qual  vem o vinho. Essa bebida está associada à festa, à alegria. Pois festa e alegria também são partes daquilo que entendemos ser o homem.  Da oliveira vem o azeite de oliva. O azeite é tempero, ele permite temperar o alimento. De tempero vem “temperança”, uma das virtudes  fundamentais da ética. O azeite também é parte dos ritos sagrados de diferentes sociedades , pois ele é um   elemento que unge e protege . E do trigo vem o  pão. O pão é o que mata a fome. Mas há também o aspecto simbólico do “pão”. Em latim, por exemplo, “pão” é “panis” , raiz do termo “companis”, do qual nasce “companheiro”: “aquele com quem dividimos o pão.” Há o pão que mata a fome do corpo, e há também o pão que alimenta a ação ( o pão da liberdade) , o conhecimento (o pão das ideias) e a sensibilidade( o pão das artes). 

A vinha e a oliveira conseguem crescer no meio selvagem, isto é, sem precisarem ser cultivadas. Porém  o trigo é tão frágil, requer tantos cuidados, que ele somente cresce sendo cultivado pelas mãos humanas . “Cuidado” vem de “caute”: prática de proteger o que é frágil. Não porque seja fraco, e sim em razão de ser uma potencialidade que, para aflorar, requer que cuidemos. É por isso que o trigo é a semente que também simboliza a condição humana enquanto potencialidade. Ao contrário, quando se faz culto da selvageria ( nos vários sentidos que essa palavra tem) , da  semente nascem apenas inumanidades  que põem em perigo a condição humana e o terreno aberto e plural da cultura.

Do trigo não vem apenas o pão, dele também vêm o bolo, o macarrão, a farinha, as diversas massas...enfim, múltiplas realidades  que  podem nascer  da potencialidade  que vive nele. Semelhante ao trigo também é o homem: somente a cultura pode nele fazer aflorar o poeta, o cientista, o médico, o jardineiro, o professor, o cidadão, enfim, ele mesmo. Pois é a cultura o meio físico e simbólico para  o homem criar e dar um sentido a ele mesmo.


            (o livro de Jung é apenas uma sugestão de leitura)



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