A filosofia grega atendia por um nome
: “Sofia” (“Sabedoria”). Não se deve confundir “Sofia” com “Razão”. Em grego, a
palavra “Razão” é masculina e tinha em
Zeus um dos seus símbolos. Porém Zeus
não era a Sabedoria: esta nasceu dele como sua filha ou obra. Sofia é
filha de Zeus com Métis. Os romanos traduziram “Métis” por “Prudência”. Porém a
palavra “prudência” não traduz a riqueza semântica da “Métis” original grega. Pois “Métis” também é a deusa das “habilidades”.
Não habilidade meramente técnica, mas
habilidade no sentido de produzir em nós um querer, uma consistência, uma perseverança, um agir. À Métis também está
associada a ideia de “saúde” enquanto cuidado consigo e com os outros. A
palavra “caute” , base da Ética de Espinosa, provém dessa noção de métis
enquanto medicina do corpo e da mente.
Uma das características de “Métis” é que ela era capaz de metamorfoses, de
devires. Então, Zeus, o deus da razão, buscou na metamorfose de Métis uma nova
saúde , uma saúde unindo pensamento e ação. De certo modo, a razão buscou sua
saúde para além dela mesma, como se a simples razão fosse , sozinha, doença.
Mesmo a razão precisa aprender habilidades que a pura razão não ensina. As
habilidades de Métis são artes que unem o pensar ao agir. E foi desse
agenciamento mais afetivo do que teórico , mais artístico e poético do que
acadêmico, que nasceu Atena, Sofia. Os teóricos da razão inspiram-se em Zeus, mas os pensadores são
enamorados e apaixonados por Sofia: e por essa paixão não apenas pensam, como
também agem e criam.
Segundo Nietzsche, a filosofia
contemporânea atende por outro nome, um nome feminino também : “Ariadne”. Ariadne significa
“aranha”, pois Ariadne é tecedora de fios, fios que ela tira de seu próprio
ventre, como a “linha de fuga” ensinada por Deleuze . Os gregos inventaram a
democracia e admiravam o cosmos, a natureza. Hoje, ao contrário, as
mesmas forças reativas que negam a democracia também destroem a natureza.
Ariadne simboliza a necessidade de um fio que nos agencie . Um fio de Ariadne
também nasce das mãos que se unem na
luta contra a barbárie.
“Eu não vou
sucumbir
Eu não vou sucumbir
Avisa na hora que tremer o chão
Amiga, é agora, segura a minha
mão”.
( LIBERTAÇÃO/ Elza Soares)
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