sexta-feira, 5 de julho de 2019

o brado retumbante


Espinosa dizia que  toda “representação” é uma convenção que só tem poder sobre nós se assim aceitarmos. A linguagem convencionada, por exemplo, é uma  “representação” que aceitamos para nos comunicar com os outros. Mas o poeta é um subversivo: ele não aceita essas representações, ele reinventa a linguagem criando novos sentidos. Espinosa chamava de “expressão” esse justo agir  que se rebela quando a “representação”  já não consegue dizer tudo aquilo que a linguagem pode. O mesmo vale para a política: deputado, ministro, presidente...são representações  políticas.  Essas representações não podem pôr em perigo a expressão em nós da vida. E vida é algo que se potencializa em liberdade, pensando e agindo: na educação , nas artes e no viver  em comum dentro da sociedade plural, heterogênea. Nenhuma representação política  vem de “Deus”, ela vem dos homens, ou  de parte deles, por intermédio da eleição. Quando uma representação põe em risco nossa potência de expressão, essa representação deve ser destruída. Em Espinosa, “destruir” uma representação não significa exatamente  agir com violência física , mas se voltar contra ela por intermédio de uma incessante e perseverante crítica, mostrando que tal representação é um perigo  para toda forma de expressão, inclusive para a expressão democrática ( que vai além do mero voto). Esse governo , na verdade, nem representação é. Toda representação, não importa qual,  é parte de um todo.  Uma representação se torna uma ameaça ao todo quando ela se põe como “um todo à parte” querendo  impor sua maneira de ser ao todo. E a única maneira de um todo à parte querer se impor como todo é destruindo todas as outras partes que são expressões  diferentes desse todo chamado Brasil. Até o momento, não houve um ato desse governo que não seja uma ameaça às partes desse todo diferentes da parte que o bozo representa. No corpo vivo,  essa ameaça de uma parte do corpo à vida do corpo todo tem um nome : câncer, um agente da destruição e morte. Se o Brasil pudesse falar e dizer o que esse governo está fazendo com suas florestas, com seus índios , com sua gente, enfim, o Brasil diria: “esse governo é uma doença”. Depois gritaria , como está no hino, um brado retumbante: “ME LIVREM DELE!!!”.





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