Escrever é o modo de quem tem a palavra como isca:
a palavra pescando o que não é palavra.
Clarice Lispector
Admiro mais ainda o pescador que
pesca com anzol do que com rede. Quem pesca com rede quer quantidades, números:
pesca com conceitos meramente teóricos. Mas quem pesca com anzol deseja o peixe
raro, único,singular, que é, por isso mesmo, o mais difícil de se deixar
fisgar. Esse peixe raro exige paciência e perseverança. O anzol que atrai tal
peixe tem a forma de um ponto de interrogação (que tem a aparência de estar de cabeça para baixo, porque na verdade está mergulhando...).
Somente a interrogação afeta o que é livre e não anda em cardumes. É a interrogação lançada no infinito oceano, somente ela, que pode atrair o peixe arisco, livre, indomável. A interrogação tem na ponta, como isca, uma ideia singular. Somente uma ideia singular pode pescar o que é único.Toda ideia singular é uma interrogação acerca do que é ser único. E essa interrogação somente pode ser lançada ao mundo, ao oceano, ao infinito, à Vida.E a resposta sobre o que é ser único somente o que é único pode dar, com sua existência única.
Somente a interrogação afeta o que é livre e não anda em cardumes. É a interrogação lançada no infinito oceano, somente ela, que pode atrair o peixe arisco, livre, indomável. A interrogação tem na ponta, como isca, uma ideia singular. Somente uma ideia singular pode pescar o que é único.Toda ideia singular é uma interrogação acerca do que é ser único. E essa interrogação somente pode ser lançada ao mundo, ao oceano, ao infinito, à Vida.E a resposta sobre o que é ser único somente o que é único pode dar, com sua existência única.
O pescador busca a ideia viva,
retirada lá mesmo da imanência onde a vida mora. O peixeiro vende apenas a
ideia morta transformada em palavra que
, para atrair e convencer, precisa da retórica, da tecnologia, de apetrechos midiáticos
e outros dispositivos que, não raro, são apenas artifícios para maquiar o cadáver. O filósofo-poeta-pescador quer a ideia viva. O
peixeiro-comerciante-publicitário-de-si-mesmo vende apenas a ideia morta,
teórica, acadêmica. Quando o peixeiro-teórico-acadêmico se aventura a ser pescador,
ele o faz indo buscar uma ideia genérica
que existe apenas em livros rasos. Para ser
pescador-pensador é preciso um instrumento
intuitivo, ou seja, capacidade de ver o que se pensa sem necessitar da mediação
de teorias. Já o peixeiro necessita de dotes apenas palavrescos.
Porém, não existiriam peixeiros se não existissem pescadores, pois estes vivem primeiro , sem prévio modelo, o que aqueles reproduzirão depois. Não haveria filosofia e poesia se não houvesse poeta e filósofo , uma vez que estes vivem para elas, ao passo que o professor e o literato apenas vivem delas.
Porém, não existiriam peixeiros se não existissem pescadores, pois estes vivem primeiro , sem prévio modelo, o que aqueles reproduzirão depois. Não haveria filosofia e poesia se não houvesse poeta e filósofo , uma vez que estes vivem para elas, ao passo que o professor e o literato apenas vivem delas.
O educador-pescador pesca seus peixes em
razão da fome dos homens, e com generosidade lhes oferta o alimento.O peixeiro-pragmático , sempre de olho no mercado, se vale dos peixes
como meio para obter dinheiro mesmo (e suas variantes: fama, poder, currículo).
Foram desses pescadores que me
alimentei dos peixes mais raros, encontráveis apenas por aqueles que sabem
transformar um livro ou uma sala de aula em oceano : Lucrécio, Plotino, Espinosa, Nietzsche,
Deleuze, Herman Melville, Pessoa, Foucault, Manoel de Barros, Clarice e Cláudio Ulpiano.
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