O homem seria
metafisicamente grande
se a criança fosse
seu mestre.
Kierkegaard
(Epígrafe
escolhida por Manoel de Barros na Primeira Parte do livro Menino do mato)
O rascunho seria um momento a serviço de um modelo.
Assim concebida, a infância seria o rascunho para a adolescência, e a
adolescência, o rascunho da vida adulta. Em Manoel de Barros, porém, o
rascunho não é um momento a ser ultrapassado em direção à forma de um modelo. O
rascunho não é a imperfeição de uma perfeição buscada. Ele, o rascunho , é a
razão de ser de si mesmo, no seu inacabamento sempre aberto, sempre a
(re)fazer-se.
Em Manoel, poesia é “ir até à infância e voltar”. E aquele
que vai não é o mesmo que retorna. Aquele que foi tinha celular, relógio, pretensões e opiniões nas mãos , além de tremores e suores. O que retorna traz apenas lápis de cor nos
dedos da mão, e de mais nada sente falta. Mas para o adulto ir à infância, é
necessário que ele desfaça a ilusão de que ele é um modelo que dá sentido à
infância, é preciso que ache, na forma que se imagina pronta , o movimento da
linha livre que a desenhou, brincada com a mão de inventar. Então, ele se
perceberá como o rascunho sonhante de uma criança . Com os olhos de tal criança
olhará para si ; e assim , quem sabe, regenerando-se, se transverá.
(Decifra-me - 01, de Cláudia Alves.Gravura digital, 2013 .http://www.claudiaalves.com.br/desenho-intuitivo/ )
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