quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

a vitória da facção mais numerosa

Dizer que cada um tem sua opinião, e que isso traduziria a essência da democracia, equivaleria a aceitar que, no campo da política, cada político tivesse seu próprio partido.Mas se cada político tivesse seu próprio partido, apenas em favor de si mesmo cada político agiria ( o congresso brasileiro, contando já com mais de 30 partidos, parece caminhar para isso...). Este agir de cada um a favor de si mesmo nada tem a ver, em essência, com a ideia de anarquia. A questão é: uma ideia não é uma opinião.
As pessoas devem buscar as idéias, não as meras opiniões.É fácil ter uma opinião:basta julgar,diminuir,aumentar,etiquetar,dissimular,subestimar,superestimar,cobiçar,lisonjear,rivalizar,pretender... enfim, ignorar( mas sem saber que se ignora).Sem esforço, muitos emprestam suas almas para que nelas viva um ou mais desses verbos.
Oscar Wilde dizia que "a vitória da opinião da maioria muitas vezes nada mais é do que a vitória da facção mais numerosa".Ter uma ideia, porém, exige esforço. Exige autonomia conjugada com o afeto pelo comum. Exige também coragem: coragem para não se subordinar às opiniões dominantes , que também são modos de vida estandartizados , tristes e impotentes, que querem se propagar através de nós. Ter uma idéia não é ter uma opinião: mostrar essa distinção consiste no maior valor que a educação, como prática libertária, pode ter.
Maquiavel inaugura a política moderna ao afirmar a seguinte opinião : "os fins justificam os meios". Entre povos mais sábios, porém, professa-se esta justa ideia :"se o homem que não convém empregar os bons meios, os bons meios não convirão"( Confúcio).Os "fins" pertencem à esfera da opinião, ao passo que o homem que convém aos outros e a si age sempre de acordo com as ideias. Estas são sempre meios, jamais fins. É por isso que a ação de uma ideia é sempre imediata: seus efeitos (políticos, clínicos, pedagógicos,enfim, existenciais) nunca podem ser vividos apenas em um futuro incerto, prometido, como reza toda esperança, religiosa ou política.Uma ideia não é uma estátua pronta , tampouco a beleza ideal que se toma como modelo para a sua produção. Como meio, ferramenta, a ideia é como o martelo e o cinzel, bem como a força, a sensibilidade e o desejo do escultor que, antes de tudo, esculpe a si mesmo.
Uma perspectiva sobre uma idéia não é uma idéia, é tão somente uma perspectiva sobre uma idéia. É a idéia que justifica a existência de um partido político. É a idéia que é uma perspectiva sobre a realidade, não a opinião.As próprias idéias são perspectivas sobre uma realidade que, por ser processo, não pode ser encerrada em uma opinião fixa.As facções nunca têm perspectivas, elas têm "A Verdade". E por esta Verdade ferem e matam , corrompem e são corrompidas.Elas estão sempre em “guerra civil” contra a Verdade de outra facção. Como em toda guerra, há os mercenários que leiloam suas competências à facção que pode pagar mais.

As idéias, contudo, formam um conjunto aberto, plural, sem hierarquia, onde reina a autêntica democracia.Nesta, a verdade existe como perspectiva sobre a vida, cujo valor se mede pelo quanto que ela favorece a própria vida.A mera defesa da opinião , sem o esforço para alcançar a perspectiva que uma idéia é, equivale, no plano político partidário, à conduta condenável de quem usurpa o comum para fazer prevalecer seus interesses pessoais .A essência da democracia são as idéias, assim como o são da própria vida.

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