Dizer que cada
um tem sua opinião, e que isso traduziria a essência da democracia, equivaleria
a aceitar que, no campo da política, cada político tivesse seu próprio
partido.Mas se cada político tivesse seu próprio partido, apenas em favor de si
mesmo cada político agiria ( o congresso brasileiro, contando já com mais de 30
partidos, parece caminhar para isso...). Este agir de cada um a favor de si
mesmo nada tem a ver, em essência, com a ideia de anarquia. A questão é: uma
ideia não é uma opinião.
As pessoas devem
buscar as idéias, não as meras opiniões.É fácil ter uma opinião:basta
julgar,diminuir,aumentar,etiquetar,dissimular,subestimar,superestimar,cobiçar,lisonjear,rivalizar,pretender...
enfim, ignorar( mas sem saber que se ignora).Sem esforço, muitos emprestam suas
almas para que nelas viva um ou mais desses verbos.
Oscar Wilde
dizia que "a vitória da opinião da maioria muitas vezes nada mais é do que
a vitória da facção mais numerosa".Ter uma ideia, porém, exige esforço.
Exige autonomia conjugada com o afeto pelo comum. Exige também coragem: coragem
para não se subordinar às opiniões dominantes , que também são modos de vida
estandartizados , tristes e impotentes, que querem se propagar através de nós.
Ter uma idéia não é ter uma opinião: mostrar essa distinção consiste no maior
valor que a educação, como prática libertária, pode ter.
Maquiavel
inaugura a política moderna ao afirmar a seguinte opinião : "os fins
justificam os meios". Entre povos mais sábios, porém, professa-se esta
justa ideia :"se o homem que não convém empregar os bons meios, os bons
meios não convirão"( Confúcio).Os "fins" pertencem à esfera da
opinião, ao passo que o homem que convém aos outros e a si age sempre de acordo
com as ideias. Estas são sempre meios, jamais fins. É por isso que a ação de
uma ideia é sempre imediata: seus efeitos (políticos, clínicos,
pedagógicos,enfim, existenciais) nunca podem ser vividos apenas em um futuro incerto,
prometido, como reza toda esperança, religiosa ou política.Uma ideia não é uma
estátua pronta , tampouco a beleza ideal que se toma como modelo para a sua
produção. Como meio, ferramenta, a ideia é como o martelo e o cinzel, bem como
a força, a sensibilidade e o desejo do escultor que, antes de tudo, esculpe a
si mesmo.
Uma perspectiva
sobre uma idéia não é uma idéia, é tão somente uma perspectiva sobre uma idéia.
É a idéia que justifica a existência de um partido político. É a idéia que é
uma perspectiva sobre a realidade, não a opinião.As próprias idéias são
perspectivas sobre uma realidade que, por ser processo, não pode ser encerrada
em uma opinião fixa.As facções nunca têm perspectivas, elas têm "A
Verdade". E por esta Verdade ferem e matam , corrompem e são
corrompidas.Elas estão sempre em “guerra civil” contra a Verdade de outra
facção. Como em toda guerra, há os mercenários que leiloam suas competências à
facção que pode pagar mais.
As idéias,
contudo, formam um conjunto aberto, plural, sem hierarquia, onde reina a
autêntica democracia.Nesta, a verdade existe como perspectiva sobre a vida,
cujo valor se mede pelo quanto que ela favorece a própria vida.A mera defesa da
opinião , sem o esforço para alcançar a perspectiva que uma idéia é, equivale,
no plano político partidário, à conduta condenável de quem usurpa o comum para
fazer prevalecer seus interesses pessoais .A essência da democracia são as
idéias, assim como o são da própria vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário