Oliveiras com sol , Van Gogh |
Você pode modificar sua cabeça com o vermelho.
Você sabe que é possível fazer uma revolução com as
cores?
Antônio Manuel
O céu da teoria é cinza;
mas sempre verdejante é a arvore da vida.
Goethe
1-Muitas são as cores. Porém três, apenas três , são as cores-fontes das quais todas as outras cores nascem. As três cores primárias
são: o amarelo, o vermelho e o azul. Não por acaso, cada uma delas está associada
a realidades que são mais do que meramente físicas, pois tais realidades também
são símbolos de processos afetivos, espirituais.
O amarelo é o sol. Ele é
a cor mais quente. É por isso que os girassóis que Van Gogh pintou eram, na
verdade, sóis do espírito que nele irradiava, mas que também o consumia. Das
páginas de Nietzsche também irradia um amarelo intenso, chama
que é de mais de um sol: "Para brilhar e ter luz própria é preciso
ter sóis dentro de si."
O vermelho é o sangue. Sangue é paixão, na medida em que é vida. Vida que corre e transpõe toda
barreira, vida que não pode parar, como o sangue nas veias.As revoluções
escolhem o sangue como bandeira: não exatamente o sangue que se derrama por mera violência bruta, mas o
que colore o rosto quando a voz , como instrumento da liberdade, a um povo chama para a luta.Todo país que fez sua revolução,
para assim instituir a dignidade e a justiça, tem o vermelho em sua bandeira.
Sua ausência na bandeira brasileira nos faz pensar mais do que na falta dessa
cor...
O azul é a cor do céu,
isto é, daquilo que está na distância. Ele é a cor da paz ,mais do que o
branco, uma vez que o azul é a cor da paz de espírito. O azul também colore
a tranqüilidade, a reflexão e a felicidade . Quem a
esses afetos sente se põe à distância de tudo o que apequena a alma: aprende a trazer um céu dentro de si quem pinta a própria alma com essa cor .Sêneca vestia azul,
a mesma cor preferida de Espinosa.A voz da sabedoria-poesia, voz que
"celesta as coisas do chão", "é voz pintada de azul"(
Manoel de Barros).
2-Da combinação do
amarelo-calor-sol com o vermelho-paixão-sangue surge o alaranjado como cor que
tinge os dias de verão. Nessa época do ano predomina o calor de tudo o que,
voltando-se para fora,expressa-se como expansiva paixão.
Da combinação do azul-paciência-céu
com o vermelho-paixão-sangue nasce o violeta ( ou púrpura) como cor que veste
os dias de outono.Nesses dias, a paciência vence o imediatismo da mera paixão:
o sentir ganha mais consistência, e permanece revificado pelo pensamento que o
amplia e conecta.
Da combinação do
azul-paciência-céu com o amarelo-calor-sol brota o verde como cor que cobre a
primavera.Sob a primavera, a paciência envolve a vida que nasce, paciência da
gestação do novo, e perdura como calor imanente a tudo o que vive.
A combinação das cores
primárias ( amarelo, vermelho e azul) faz surgir as cores secundárias que
identificamos aos processos da natureza.Isso nos mostra a íntima relação entre
o espiritual e o físico, o afeto e o acontecimento.Não raro, nascem primaveras
no espírito, mesmo fazendo inverno ao redor.
O inverno é alternância
do branco com o negro: o branco é a presença indistinta de todas as cores, ao
passo que o negro é a ausência das mesmas.Ao contrário do que se pensa, o cinza
não nasce da mera combinação do branco com o negro, mas da união das cores
virtualmente no branco. Há ainda a possibilidade do cinza nascer pela adição do
negro a qualquer outra cor. Contudo, dizem os físicos , tal processo é, na
verdade, uma subtração: o negro não acrescenta negro, a ausência não pode
acrescer ausência, o negro subtrai de uma dada cor a vida dela mesma,
enfraquecendo-a. É por isso que ao cinza é associada a ideia de tristeza, como
também ao próprio inverno.
Porém, facilmente se
esquece que no inverno há também o branco e, neste, as cores. E se o negro é
alguma coisa, o é na medida em que é apenas a ausência do que realmente existe.
Nas noites estreladas, o negro que rodeia as estrelas não é alguma coisa, ele é a
subtração do que não podemos ver.Somente o que verdadeiramente existe pode combinar-se e fazer nascer algo. O negro não combina ou compõe: ele
apenas subtrai, posto que ele é ausência. Para a subtração ou negação ter
poder, é preciso que a vejamos como uma
presença que de fato ela não é. Mas a ausência não é algo: ela é apenas o
enfraquecimento de algo.Isso vale não apenas para o inverno físico, vale também, e sobretudo, para os invernos espirituais.O negro do luto, por exemplo,
expressa que algo foi subtraído da existência.
Porém acima das cores está
a Luz.Esta não é o branco,pois em relação à Luz o branco não é mais claro que
o vermelho,o azul ou o amarelo.Mesmo o
branco mais puro é mais escuro do que a Luz.O branco é mais escuro do que a Luz
permanecendo branco, sem enegrecer, sem se diminuir.A Luz também não é a
claridade que emana do sol, uma vez que esta nasce do amarelo.Há na Luz mais
paz e paciência do que há no azul, mas sem fazer desta uma cor intranquila ou
impaciente. Por fim, há na Luz mais paixão do que há no vermelho, mais calor do
que há no amarelo de todos os sóis juntos.
A Luz não é o branco.A
junção do negro com o branco faz aparecer o cinza, contudo a junção do negro com a
Luz faz aparecer a Luz mais ainda, ao mesmo tempo que faz o negro desaparecer.O negro pode tornar cinza
qualquer cor ,ele o faz por subtração. Diante da Luz,porém, o negro se desfaz e
mostra o que verdadeiramente é:"o escuro é o que não se vê", canta
Gil em uma de suas canções.
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