quinta-feira, 13 de novembro de 2014

os frutos (eternos) do querido manoel






Se a gente não der o amor ele  apodrece em nós.

Manoel de Barros


O que diz Manoel também já o disseram sábios, santos, simples.Já o disseram fazendo.Quando a gente dá o amor, aquele que o recebe e o que dá passam a existir mais. O poeta dá o amor à palavra: ao receber o amor que o poeta lhe dá, a palavra também recebe o poeta e deixa que ele viva nela. E assim o poeta já não vive apenas dentro dele, mas vive fora, nas coisas, no mundo. Van Gogh deu amor às tintas, e estas o receberam amando-o. E Van Gogh se metamorfoseou em girassol que nunca apodrece, mesmo que apodreçam as tintas com as quais o girassol pintado é feito.
Ódio, inveja, rancor, cobiça, vaidade...são frutos apodrecidos.Ódio, inveja...são amor apodrecido, e isto se vê facilmente no rosto , nas palavras e nas ações de quem os sente. As paixões tristes, como ensina Espinosa, são frutos apodrecidos . O ódio , o rancor, a cobiça, a vaidade...não são o fruto original,pois estes frutos não nascem da árvore da vida, da árvore da Natureza. Se tais paixões tristes existem e governam os homens, é na alma destes que tais frutos têm raízes. Não raro, estes frutos apodrecidos são a moeda pela qual se compram ou obtêm fama, poder, posses, títulos.
Somente o amor é, da árvore da vida, o fruto. Fruto que não se vende ou troca, mas que se dá, que se oferta. O poeta dá o amor sem esperar amor em troca. Ele dá o que já está nele, e não o que lhe falta. Generosidade da invenção, da alegria.
 Mas antes do fruto estar maduro, ele cresce em nós ainda verde. Ele amadurece em nós de acordo como amamos a nós mesmos, de acordo como o cultivamos cultivando-nos.E isto se faz discretamente, sem alarde, sem esperar reconhecimentos, a não ser da própria árvore que gerou o fruto. E esta nos recompensa fazendo nascer mais frutos em nós: ela nos faz nascer mais ideias, mais poemas, mais arte, mais alegria,mais afeto, mais afirmação, mais generosidade ,mais ousadia , mais  firmeza, enfim, ela faz nascer mais do mais: ela nos faz nascer nascimentos ( "na ponta do meu lápis só tem nascimento", sorri para nós o poeta).
Árvore rizomática de múltiplas raízes .Árvore sem centro, que cresce horizontalmente e nos horizonta.

4 comentários:

Cláudia Maria Fraga disse...

Não chorar tão criança, penso. Enquanto o mundo amanhece menor em infância.

Elton Luiz Leite de Souza disse...

Olá, Cláudia, tudo bem com você?
Agradeço-lhe pela visita.
Muito bonito o que você disse.
Nossa infância, hoje, diminuiu...
Bjs,
Elton Luiz.

João disse...

Que os nascimentos de 2014 redimam a humanidade da perda de Manoel e Suassuna. E que saibamos fazer reviver a obra deles nas nossas. Parabéns, Elton, por educar para nascimentos!
grande abraço, hoje um pouco entristecido,

Elton Luiz Leite de Souza disse...

Olá, João.
Uma grande perda, senti como se fosse alguém da família, muito além da mera questão profissional.Porém, parte dele continua, a parte eterna, e que não vem depois da morte, pois ela já está presente em cada verso, como Vida.
Um abraço,