(trecho do livro)
Guiados
pela leitura das poesias de Manoel de Barros, fomos surpreendidos por uma
positividade muitas vezes desconcertante, inaugural, que flagra a “verdez das
coisas” , como o poeta mesmo diz, e as retrata em palavras que nos deixam ver o
deslimite enquanto matéria de sua poesia.
A
Vida é um processo que atravessa nosso vivido e rompe os limites utilitários
deste; do mesmo modo que o Sentido , quando trabalhado pelo poeta, emerge na
linguagem extravasando as significações dominantes que prescrevem à palavra um limite.
O deslimite é o processo que faz do inacabamento o estado sempre renovado que
não deixa com que as coisas acabem, sendo então reinventadas pelo processo criativo
― tanto na poesia como na vida.
Atingir
o deslimite não significa destruir-se ou negar-se. Ao contrário, é o limite que
destrói a invenção que se pode e se deseja. O deslimite , portanto, é uma experiência
com a Vida, e não com a morte ( nos vários sentidos que essa palavra pode ter).Embora
seja uma experiência eminentemente poética, isso não significa que ela seja
suscitada apenas pela leitura de poesia. A essência de tal experiência é
exatamente nos ensinar a alargar a compreensão do que seja poesia, como faz
Manoel de Barros, para que a vejamos em todas as coisas que, rompendo seus limites,
deixam ver a Vida.
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