DIÁLOGO 2
- Levante a cabeça.
- Desculpe , não entendi...
- Nunca olhe para o chão.
- Por quê?
- Os olhos podem se acostumar. E olho acostumado ao chão desaprende de ver.
- Mas sempre me vejo indo na direção contrária a que todos vão.
- Não se acha mais sozinho quem aprende a fazer-se companhia.
- E se a pessoa está perdida?
- Se estiver perdida à maneira de uma criança que se afastou dos pais, deve ficar quieta para ouvir, mesmo que no meio de uma multidão, a voz que a chama de longe , e que vem dos pais; se estiver perdida à maneira de alguém que não sabe para onde vai, é a outras vozes que deve aprender a ouvir, e mesmo a voz de um estranho pode soar familiar.
- E se a pessoa for surda?
- Mas , de certo modo, quem não é?
- Como então ouvir?
- Não raro, a surdez está no ouvir. Há os que somente ouvem as vozes que vêm de baixo, e ainda há alguns outros, muito poucos, que conseguiram ouvir as vozes que vêm do alto.
- E qual voz fala com mais sentido? Qual é apenas delírio?
- Isso depende do ouvido que temos. Essas vozes falam dentro da nossa alma.
-Do que fala uma e do que a outra?
- A voz que vem de baixo é puro peso, e para baixo puxa a alma. É a voz da queda, do tombo. É a voz do que não aceita que estejamos de pé. Mas ela só é ouvida quando nela crê nosso ouvido.
- E a voz do alto?
- É uma espécie de canto que ouvimos quando dentro de nós faz silêncio. E ao ouvi-la, impossível não cantar também. E uma alma que canta não morre. Muitos ouviram essa voz de forma diferente, de acordo com o ouvido que tinham. Embora muitas maneiras há de ouvi-la, essa voz porta, no entanto, um único sentido. Mozart a traduziu no piano; Cézanne a entendeu nas cores das tintas; Gandhi a pôs em suas pernas e braços, e nunca mais se cansou de fazer o bem ; São Francisco a ouvia nos pardais ;Visconti a entendeu sob a forma de luz; Pessoa se tornou muitos ao pô-la em sua poesia tão única; Espinosa a trouxe ao coração para ser sua conselheira ; e Plotino a tudo compreendeu quando aprendeu que a tal voz do alto é escada por onde tudo sobe.
- E sua voz, de onde vem?
- Não posso ter certeza de onde ela vem, apenas para onde ela vai. E vou junto com ela, inteiro. E ela me trouxe aqui, para junto do seu ouvido. E obrigado por nos deixar entrar.
- Levante a cabeça.
- Desculpe , não entendi...
- Nunca olhe para o chão.
- Por quê?
- Os olhos podem se acostumar. E olho acostumado ao chão desaprende de ver.
- Mas sempre me vejo indo na direção contrária a que todos vão.
- Não se acha mais sozinho quem aprende a fazer-se companhia.
- E se a pessoa está perdida?
- Se estiver perdida à maneira de uma criança que se afastou dos pais, deve ficar quieta para ouvir, mesmo que no meio de uma multidão, a voz que a chama de longe , e que vem dos pais; se estiver perdida à maneira de alguém que não sabe para onde vai, é a outras vozes que deve aprender a ouvir, e mesmo a voz de um estranho pode soar familiar.
- E se a pessoa for surda?
- Mas , de certo modo, quem não é?
- Como então ouvir?
- Não raro, a surdez está no ouvir. Há os que somente ouvem as vozes que vêm de baixo, e ainda há alguns outros, muito poucos, que conseguiram ouvir as vozes que vêm do alto.
- E qual voz fala com mais sentido? Qual é apenas delírio?
- Isso depende do ouvido que temos. Essas vozes falam dentro da nossa alma.
-Do que fala uma e do que a outra?
- A voz que vem de baixo é puro peso, e para baixo puxa a alma. É a voz da queda, do tombo. É a voz do que não aceita que estejamos de pé. Mas ela só é ouvida quando nela crê nosso ouvido.
- E a voz do alto?
- É uma espécie de canto que ouvimos quando dentro de nós faz silêncio. E ao ouvi-la, impossível não cantar também. E uma alma que canta não morre. Muitos ouviram essa voz de forma diferente, de acordo com o ouvido que tinham. Embora muitas maneiras há de ouvi-la, essa voz porta, no entanto, um único sentido. Mozart a traduziu no piano; Cézanne a entendeu nas cores das tintas; Gandhi a pôs em suas pernas e braços, e nunca mais se cansou de fazer o bem ; São Francisco a ouvia nos pardais ;Visconti a entendeu sob a forma de luz; Pessoa se tornou muitos ao pô-la em sua poesia tão única; Espinosa a trouxe ao coração para ser sua conselheira ; e Plotino a tudo compreendeu quando aprendeu que a tal voz do alto é escada por onde tudo sobe.
- E sua voz, de onde vem?
- Não posso ter certeza de onde ela vem, apenas para onde ela vai. E vou junto com ela, inteiro. E ela me trouxe aqui, para junto do seu ouvido. E obrigado por nos deixar entrar.
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