sábado, 16 de março de 2024

A "caverna" e a luz

 

Em sua famosa alegoria, Platão compara a uma “caverna”  o mundo no qual vivem os homens alienados, ontem e hoje.

Esses homens não entraram  na caverna para  explorá-la. Ao contrário, eles são explorados dentro dela : nela vivem como   prisioneiros acorrentados.

Eles estão acorrentados de costas para a saída da caverna e de frente para o fundo dela. Como esses homens naturalizaram essa  condição, ignoram que são prisioneiros, não se dando conta que estão acorrentados.

As correntes não são de ferro ou aço, elas são feitas de um material que vem dos próprios homens aprisionados: elas são feitas com  suas passionalidades reativas e opiniões ressentidas, limitadas .

Ódio, ressentimento,  preconceito, medo...são exemplos de “paixões tristes”  que , como ensina Espinosa, tornam os homens prisioneiros deles mesmos e partes de um rebanho manipulável.

O mundo da caverna não é totalmente escuro, pois entra nele um pouco da luz que vem de fora.  Por isso, no fundo da caverna se projeta  o reflexo, apenas o pálido reflexo, das coisas reais que existem fora da caverna.

Mas como os acorrentados não sabem que existe um mundo fora da caverna,  aprisionados que estão ao negacionismo, eles imaginam  que o reflexo distorcido  do mundo é o próprio mundo, e assim tomam por real apenas sombras, “fake news”.

Os prisioneiros carregam a caverna não importa onde estejam:  ela é o mundo estreito dos que estão acorrentados na ignorância  e submetidos aos que os mantêm nessa condição de servos voluntários.

Na abominável caverna militar-teológico-política em que está aprisionada parte da sociedade brasileira,    os prisioneiros dela , autointitulando-se “homens de bem” , estão sempre falando em pátria e Deus;  mas a pátria e Deus deles são apenas sombras no fundo da  obscura caverna  da ignorância.  

Platão chamava de “espertalhões da caverna” os que  se aproveitam dessa  alienação  trevosa : eles  posam de governantes  e “líderes espirituais”, quando na verdade são tiranos do corpo e da alma.

Ontem e hoje , os tiranos da caverna odeiam a luz e contra ela fazem sua suja guerra , pois temem o lume  da educação emancipadora.

Pois a razão de ser dessa luz  é fortalecer quem a conhece e se autoconhece a partir dela, adquirindo assim força para agir individual e coletivamente em defesa  da dignidade e   da justiça,  para enfim pôr os tiranos  da caverna num outro lugar igualmente  em penumbra, lugar esse    que  deve ser o destino  deles : após o devido processo legal, sem anistia, a cela de uma cadeia.


( este livro é apenas uma sugestão)



 

 

Um dos “bons conselhos” de Foucault para uma vida não-fascista : “nunca se apaixone pelo poder”. Como ensina Espinosa, poder ( do latim “potestas” ) não é o mesmo que potência ( “potentia”).



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