A cisterna contém; a fonte
transborda.
(William Blake)
No livro "O guardador de
águas", Manoel diz que aprendeu a
guardar águas. Não ouro, dinheiro ou posses, mas águas. Guardar também é
cuidar. As águas não são exatamente coisas, elas são fluxos. Cuidar dos fluxos
é o oposto de construir cercas , gaiolas
, gramáticas. Os fluxos são sempre desterritorializados e desterritorializantes
: não se pode "passar régua" neles . Para guardar fluxos é preciso também
ser um. Ser fluxo não é ser “líquido”. Os
líquidos são “voláteis” ( como a liquidez do Capital destes “tempos líquidos”...).
Os fluxos correm entre as pedras , e nunca se submetem ao poder delas ,
vencidos. O líquido é um estado
contrário ao sólido, que nega o sólido; assim como o sólido, enquanto estado,
também é uma negação do líquido. Apesar de opostos, sólido e líquido são
estados, isto é , enfraquecimento ou despotencialização do fluxo: por
enrijecimento de uma identidade , no caso do sólido; por tornar a diferença um
clichê , no caso do líquido. Os fluxos não são estados : eles são devires...
O líquido se acostuma parado, se o aprisiona uma cisterna. Mas um fluxo é feito o sangue nas
veias: se não avançar, perece. Os fluxos ou inventam linhas de fuga ou secam
e morrem - e a secar resistem com toda
força que podem.
Os fluxos somente podem ser guardados em
espaços abertos. E abertos se tornam a
sociedade, a mente e o afeto se um fluxo de vida os atravessa. O fluxo é
fluido, mas não é sem força ou volúvel; ele é firme, possui consistência, porém
não é rígido. Pedras não vencem o avançar de um fluxo , enquanto viver a fonte da qual ele transborda.
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