segunda-feira, 4 de agosto de 2014

mínimas









Traçado a giz
deve ser o contorno
de quem amanhã já não será o mesmo.


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A melhor maneira de ver no escuro
é mantendo a alma acessa.

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O coração não faz sermões:
ele nos pega pela mão e conduz.

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Os cabelos brancos, como a altiva neve,
só deviam adornar os altos picos.


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“Um pássaro empalhado pousado numa árvore morta”,
eis no que se torna a palavra,
quando dita por uma boca que se perdeu da alma.


   
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A pérola nasce dentro da ostra
porque sua confiança não depende do que lhe está fora.


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Melhor sabe despertar
quem pela manhã abre os olhos
como se fosse pela vez primeira.


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Enquanto lhe estendia a mão direita,
com a esquerda me agarrei onde a morte não alcança,
para assim levantar nós dois.

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Só deve frutificar na boca
a palavra cuja semente na ação se plantou .

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Estenda a mão como uma corda caída do céu.

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O sol não tem memória do brilho que ontem fez.

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O caminho para ir e o caminho para vir
não conhecem os mesmos pés.

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Quando um amigo lhe abre a casa
somente a entre se na porta deixar toda arma.

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A seda do coração é azul,
e tem o cheiro das maçãs que se embrulham nela.



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O labirinto mais difícil de se vencer
é aquele que tem no seu centro o que mais desejamos.


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Uma facada me deu a saudade:
do meu coração sangrou Cartola.

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No avesso da palavra
pode-se ver qual sentimento cerziu suas tramas .

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A memória da cor
nunca se esquece do que torna eterno
os dias felizes.

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Sorrimos nos retratos em agradecimento ao tempo,
que deixou conosco um instante seu ficar.


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 As ações são obras que se perdem
se nos detemos muito no esboço delas.

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Ao sutil vê quem é amigo das cores.

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Não guarde palavras em sua alma:
são bagagens que limitam a viagem.

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Esquecer é aprender a viver de novo.

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Ao seguirmos os passos do tempo na areia,
o tempo é o mesmo vento que apaga os passos atrás.

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O melhor conselho é ação que se dá de presente.


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O que pode a arte,
sente-o o que em nós não é obra ainda.

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Rabisca-se primeiro no coração, antes de toda palavra,
a lição que em nenhum livro está ainda escrita.

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É perigoso enterrar o passado no peito, imaginando que assim nos livramos dele:
esta terra é por demais  fértil, muito mais do que supomos.
Basta que a regue um tango, um Cartola ou a voz de Billie Holiday...
e tudo de novo floresce como no dia em que nasceu pela primeira vez.












2 comentários:

Joelma Silva disse...

Os desenhos são muito bonitos e as frases também,gostei muito!

Elton Luiz Leite de Souza disse...

Obrigado, Joelma!
Os três primeiros desenhos se chamam "noite de inverno", e o último é "lua baça sobre o mar".
Um abraço,