Eu sou dois seres.
O primeiro é fruto do amor de
João e Alice.
O segundo é letral:
É fruto de uma natureza que pensa
por imagens,
Como diria Paul Valéry.
O primeiro está aqui de unha,
roupa , chapéu
e vaidades.
O segundo está aqui em letras,
sílabas, vaidades
frases.
E aceitamos que você empregue o
seu amor em nós.
Manoel de Barros
A
natureza produz os seres; a poesia produz sentido. O poeta produz o sentido dos
seres que a natureza produz. O poeta possui o olho para ver esse processo;ele o
vê vendo-se na eucaristia do verbo com o substantivo, para dessa maneira “inventar
comportamentos” verbais. O poeta se veste com a natureza, para assim ser camaleão,
“Ninguém”.
O
poeta se desfaz do seu ego e da sedução das propriedades e títulos: ele divina
o chão e descobre que é daí que nasce o voo. Mas um voo “fora da asa”, feito pelo
tranver as coisas tendo o “condão para sê-las”.
O
poeta é um agente coletivo . Por intermédio dele, dá-se um “afloramento de
falas” da coletividade feita não só de homens, mas de tudo que existe e não
existe , pois “as coisas que não existem são mais bonitas”. E
estas o poeta as colhe em seus “nadifúndios”.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça , monge ou mendigo
ao mesmo tempo.
O
nadifúndio é a Terra de um
povo de criadores, sem “existidura de limites” (tais como nacionalidade,
preferências partidárias, grau de instrução, cor da pele, tempo, espaço,
língua...). O nadifúndio é o “território liso”, “nômade”, que o poeta inventa
dentro da língua, fazendo esta pegar delírio, para em seu deslimite sonhar,
criar, inventar .
Cabe à poesia curar a linguagem do mais triste
dos delírios: o de uma língua-clichê que impede um “afloramento de falas”.
trecho do livro:
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