Encontramos esboçado em Gilles Deleuze um dos problemas que tencionamos
desenvolver, pois nos parece que ele toca de perto aquilo que em Manoel de
Barros constitui a experiência do deslimite. Afirma Deleuze que
"Escrever
não é certamente impor uma forma (de expressão) a
uma
matéria vivida. A literatura está antes do lado do informe
ou
do inacabamento. (...) Escrever é um caso de devir, sempre
inacabado, sempre em via de fazer-se, e que extravasa
qualquer
matéria
vivível ou vivida. É um processo, ou seja, uma
passagem
de Vida que atravessa o vivível e o vivido".( Deleuze, Crítica e clínica, Ed. 34, p.11)
A Vida é renascer constantemente, a todo tempo e instante.
Por conseguinte, a Vida é metamorfose, arte. A Vida nunca nasce, quem nasce são
os indivíduos. A Vida sempre renasce nos indivíduos que nascem. A Vida,
portanto, é puro renascer: por nunca nascer, a Vida também jamais morre (quem
morre são os indivíduos). A Vida não é uma, mas muitas: são todas as que
tivermos a potência de inventar e criar, conjugando nosso viver com a Vida que
em si mesma é criação, Arte.
A Vida é um processo que atravessa nosso vivido e rompe os
limites utilitários deste; do mesmo modo que o Sentido , quando trabalhado pelo
poeta, emerge na linguagem extravasando as significações dominantes que
prescrevem à palavra um limite. O deslimite é o processo que faz do
inacabamento o estado sempre renovado que não deixa com que as coisas acabem,
sendo então reinventadas pelo processo criativo ― tanto
na poesia como na vida.
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