domingo, 1 de julho de 2018

ser um poeta, mesmo com a bola


“É preciso proteger os fortes dos fracos.” Essa frase do Nietzsche  se aplica a várias coisas, inclusive ao futebol . Na bola, o forte é  mais do que mero atleta, sendo também  criativo, artístico, pensador. O criativo respeita as regras, mas não se limita a elas,  pois ele exerce  uma potência singular  :  sua arte de jogar/pensar. Por isso , ele também sabe  inventar o improvável que não está previsto na “regra acostumada”,  sem fazer de sua invenção  uma burla ou infração. Quando o Leônidas da Silva inventou a “bicicleta”, o juiz parou sem saber o que fazer, pois Leônidas “inventou um comportamento” apoiado apenas naquilo que “pode um corpo”, como já dizia Espinosa.  Em geral, o craque-criativo-pensador sofre violências e agressões. Do ponto de vista meramente físico, o jogador que entra violentamente no craque, imaginando que assim o vence, só aparentemente o violento-brigão é forte. Do ponto de vista do futebol, o mero violento  é fraco. Forte é o pensador-criador, e é por isso que ele precisa ser protegido. Quando se aplica o cartão amarelo ou vermelho para  proteger o forte, é porque se quer proteger igualmente o futebol enquanto prática mais do que meramente de força física. Talvez tal cuidado pudesse nos inspirar na  política: proteger os fortes (os que têm ideias fortalecedoras das regras democráticas), dos fracos (os que têm apenas a força do dinheiro, da mídia ou da mera promessa de violência bruta mesmo...). Nosso voto será nossa sentença: proteger o forte ou o fraco?
Baudelaire dizia: “seja sempre poeta, mesmo em prosa”. Mesmo sem ler Baudelaire, Leônidas da Silva aprendeu a lição: “sendo um poeta, mesmo com a bola”.

( foto: Leônidas e sua “bicicleta”)





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