quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Espinosa, Dandara e Zumbi

 

Uma das principais virtudes da ética de Espinosa é a “fortaleza” . Em latim, “fortitudo”.  Alguns  traduzem "fortitudo" como "força de ânimo" ou “força da vida” ("ânimo" vem de "ânima" = "unidade vital da alma e do corpo").

Tal força não se expressa apenas em termos de músculo. O contrário do ânimo não é a morte ou a doença, mas o des-ânimo. O oposto da vida não é a morte, e sim a vida enfraquecida em seu ânimo.

 A fortaleza-virtude tem força, mas não é violenta; ela tem potência, porém não é soberba; ela é firme, sem ser rígida.

Na sabedoria oriental considera-se a flor de lótus o símbolo da fortaleza: ela não tem muros a cercando , porém a lama não a contamina ou turva. Apesar da sujeira em torno, a flor de lótus ensina a como perseverar sendo ela mesma. Ela ensina com sua existência, sem precisar de sermões ou teorias acadêmicas.

Esta é a lição maior da flor de lótus: termos a força e perseverança  para agirmos eticamente em defesa da dignidade , mesmo cercados de lama.

A flor de lótus simboliza a mente que pensa unida ao corpo que age , por mais hostis que sejam as circunstâncias . Como ensina o sábio-poeta Manoel de Barros: “Sei de todas as espurcícias do mundo, mas do que gosto mesmo é de circo.”

     Curiosamente, Espinosa , Zumbi dos Palmares e Dandara foram contemporâneos, viveram na mesma época histórica. Espinosa nasceu em 1632; Zumbi, em 1655; Dandara, em 1654. Eles foram irmãos em espírito  na afirmação da liberdade, e foram igualmente perseguidos pelos poderes que vivem de promover a servidão e a ignorância. Não por acaso, na língua banto, “fortaleza” é “quilombo”.








 

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