Uma das principais virtudes da ética de Espinosa é a “fortaleza” . Em
latim, “fortitudo”. Alguns traduzem "fortitudo" como
"força de ânimo" ou “força da vida” ("ânimo" vem de
"ânima" = "unidade vital da alma e do corpo").
Tal força não se expressa apenas em termos de músculo. O contrário do
ânimo não é a morte ou a doença, mas o des-ânimo. O oposto da vida não é a
morte, e sim a vida enfraquecida em seu ânimo.
A fortaleza-virtude tem força, mas
não é violenta; ela tem potência, porém não é soberba; ela é firme, sem ser
rígida.
Na sabedoria oriental considera-se a flor de lótus o símbolo da
fortaleza: ela não tem muros a cercando , porém a lama não a contamina ou
turva. Apesar da sujeira em torno, a flor de lótus ensina a como perseverar
sendo ela mesma. Ela ensina com sua existência, sem precisar de sermões ou teorias
acadêmicas.
Esta é a lição maior da flor de lótus: termos a força e perseverança para agirmos eticamente em defesa da dignidade
, mesmo cercados de lama.
A flor de lótus simboliza a mente que pensa unida ao corpo que age , por
mais hostis que sejam as circunstâncias . Como ensina o sábio-poeta Manoel de
Barros: “Sei de todas as espurcícias do mundo, mas do que gosto mesmo é de
circo.”
Curiosamente,
Espinosa , Zumbi dos Palmares e Dandara foram contemporâneos, viveram na mesma
época histórica. Espinosa nasceu em 1632; Zumbi, em 1655; Dandara, em 1654.
Eles foram irmãos em espírito na
afirmação da liberdade, e foram igualmente perseguidos pelos poderes que vivem
de promover a servidão e a ignorância. Não por acaso, na língua banto, “fortaleza”
é “quilombo”.


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