Uma letra diz
mais sozinha ou agenciada à outra, formando uma sílaba? Uma letra diz mais
sozinha ou numa sílaba que faz parte de uma palavra? E em qual tipo de palavra
as letras agenciadas teriam mais a dizer: na palavra mentirosa ou na palavra
autêntica? Na palavra que xinga ou na palavra que canta? Na palavra que sai da
boca de um milic0 que grita ordens ou na
palavra que nasce da boca de um educador que desperta autonomias?
Se uma letra
fosse como o ego de um egoísta, talvez ela imaginasse que é o indivíduo isolado
que tem primazia, tal como prega um neoliberal individualista. Porém louca
seria a letra que julgasse dizer mais sozinha do que fazendo parte de uma
sílaba, na vida de uma palavra, no coração de uma frase , dando existência a um
livro.
Pois é na
imanência de um livro, como parte de seu plural sentido, que uma letra de fato
pode ampliar-se e expressar a si mesma naquilo que expressa o livro, desde que
o livro não seja apenas letras mortas no papel , mas expressão de um dizer vivo
cujo sentido seja aberto às interpretações criativas que lhe acrescentem novas
e plurais perspectivas, como Obra Aberta.
“Minhas palavras
não se ajuntam por sintaxe, mas por afeto.”(Manoel de Barros)
“A palavra abriu
o roupão para mim : ela quer que eu a seja.” ( Manoel de Barros)
“A poesia está
guardada nas palavras, é tudo o que sei.” ( Manoel de Barros)
(Imagem: estive recentemente
visitando o Museu-Casa Quintal Manoel de Barros e tirei esta foto. Lá pude
constatar uma verdade, uma verdade poética sempre dita pelo poeta: que o
quintal dele é maior do que o mundo. Não maior em termos físicos, mas na
capacidade de horizontar a mente e o coração, transmutando-os em Obra
Aberta. A expressão “Obra Aberta” é do
filósofo Umberto Eco . Uma sociedade plural e democrática também deve ser uma “Obra
Aberta”, como antídoto a toda forma de f@scism0 e aut0ritarism0)


