MANOEL DE BARROS:UMA DIDÁTICA DA INVENÇÃO
(artigo publicado na Revista Brasileiros, em parceria com
Paulo Vasco)
A primeira vez que ouvi falar de Manoel de Barros foi em uma
aula de filosofia ministrada por um professor pelo qual eu tinha uma imensa
admiração, o filósofo Cláudio Ulpiano. Este citou um verso do poeta para
ilustrar uma ideia da filosofia. Eu tinha pouco mais de 20 anos. Uma outra
pessoa “desabriu em mim”. Nunca mais parei de comungar com seus versos, seus
pensamentos, suas visões comungantes. Ele me terapeutou. Parte dessa “terapia”
foi me curar de uma propensão acadêmica de pouco olhar para o Brasil. Ficamos
com os olhos teóricos na França, na Alemanha...e não vemos o nosso quintal. O
poeta me ensinou a “desaprender os saberes que vêm em tomos”.
Dessa terapia verbal
ousei escrever um livro sobre o poeta. O
próprio poeta foi meu primeiro leitor, pois enviei os rascunhos, as “formas em
rascunhos”, para ele. Eu pedia sua autorização para publicação. Obtive o
endereço do poeta com sua filha, a Martha Barros, em 2008.Ela me orientou a não
telefonar para ele e muito menos escrever-lhe e-mails. Eu deveria escrever para
o poeta à mão, pois assim ele veria, além da letra, o espírito. Fiz o
recomendado. Enquanto não vinha a resposta do poeta, fiquei com o coração na
mão. Um dia, recebi uma carta com letrinha miudinha, parecendo caminho de
formiga. Com generosidade e atenção, ele autorizou a publicação do livro. “Voei
fora da asa” de tanta alegria. No livro, foram com essas simples palavras que
terminei a apresentação que fiz do querido e inestimável poeta:
“Mais do que um poeta,
Manoel de Barros é um pensador, um pensador brasileiro. Empregamos aqui
‘brasileiro’ no sentido mais genuíno e rico que esta palavra pode ter, pois ser
brasileiro é ser, em essência, ‘mestiço’. Não nos referimos, claro, a uma
mestiçagem baseada em cores de pele, mas na mistura singular de almas
heterogêneas que fazem nascer em uma
única alma a capacidade de falar e sentir por muitas. Só a mestiçagem de almas
pode dar nascimento a um estilo ao
mesmo tempo singular e plural, poético e filosófico, autóctone e estrangeiro.”
(Manoel de Barros: a poética do deslimite, Rio de Janeiro, Editora
7letras/FAPERJ, 2010).
link para texto completo:
http://brasileiros.com.br/2015/01/manoel-de-barros-uma-didatica-da-invencao/
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