Em suas obras políticas, Espinosa
critica a ideia de liberdade como “independência”. Para ele, ao contrário, toda
liberdade autêntica é sempre a construção e afirmação de algum tipo de relação
da qual dependemos para sermos livres.
Pois nada é livre vivendo à
parte, toda liberdade é uma forma de relação ou agenciamento. Ser livre não é não
depender de nada, ser livre é depender, antes de tudo , de nós mesmos para
sermos livres, uma vez que a primeira das relações fundamentais é a relação
consigo mesmo.
Um povo livre não é aquele
que se coloca à margem do mundo e em guerra com todos. Um povo livre é aquele
que mais depende de si mesmo para governar a si mesmo.
Um povo que sabe que depende de
si mesmo para construir sua liberdade nunca imagina que sua liberdade dependerá
do Mercado, da Religião , do Patrão, da Mídia, do Capital... e muito menos da
Casa-grande.
Quem governa um povo livre
é ele mesmo, pois um povo livre é aquele que mais depende de si mesmo para
construir sua história.
Um povo livre não é aquele
que imagina que houve uma data histórica no passado onde ocorreu sua
suposta “independência’. Um povo livre é aquele que a cada vez cria a
compreensão, aqui e agora, de que depende de si a construção de sua liberdade,
para assim afastar milicos aproveitadores que se imaginam “donos da
Independência”.
O governo mais favorável à luta
do povo não é aquele que se coloca “acima do povo”, como um “pai” ou
“padrasto”.
Um governo autoritário
teológico-político de pretensos “ungidos” sempre teme um povo esclarecido
e autodeterminado.
O governo mais favorável à
liberdade do povo é aquele que, vindo do próprio povo, age para que
o povo mesmo compreenda que é ele que governa ao escolher os governantes.
E que depende antes de tudo dele, do próprio povo em sua heterogeneidade,
escolher quem o auxiliará a depender cada vez mais de si mesmo na construção
histórica de seu destino.
Um povo que depende cada vez mais
de si para ser e construir a si mesmo é um povo que se educa, que cria sua
arte, sua memória e seu futuro.
Não existe “Independência do
Brasil” como se fosse um fato consumado. O que existe é a necessidade de
construção da nossa liberdade coletiva com a compreensão de que depende de nós
mesmos construirmos a nossa soberania, e que isso requer decisão, perseverança e
coragem.
E melhor ainda se pudermos fazer
isso cantando juntos, com Gil, Chico e Caetano.
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