Ela se chamava
Maria Madalena. Nasceu na favela Nova Holanda, de pai desconhecido. Aos 13 foi
abusada, ficando grávida do traficante
do lugar. Mas pouco viveu o recém-nascido: secou a semente antes do broto
desabrochar.
Aos 15 Maria
Madalena foi viver na rua, sendo usada como put4 por
muitos que só a queriam explorar :
seguranças, policiais... vários se aproveitavam dela sob a
máscara de fingir ajudar; havia ainda os
autointitulados “homens de bem” , que tinham prazer em a apedrejar.
Aos 18 ela
parecia ter 30 a mais: enquanto a anestesiavam etílicos sonhos, vinha o tempo
feito um ladrão roubar seus anos, sem dó , sem pena.
Padres,
pastores, pais de santo, ungidos...todos diziam que a poderiam recuperar.
Um chegou
a dizer que sua vida era castigo, culpa de outra vida, karma a lhe
pesar.
Maria Madalena
pegou de novo barriga, novamente a perdeu. Seu corpo era todo ferida, mas lhe
doía mais a alma que enlouqueceu.
Numa fria
madrugada, ela caiu junto a um ipê perto da Lapa, entre sacos de lixo e urina
de cão.
Ela caiu perto
da raiz, e só a aurora testemunhou sua transmutação: o ipê a sorveu para dentro
de si, a limpou de toda sujeira mundana, sarou-lhe as feridas insanas, a
alimentou com seiva até Madalena com o ipê
se fundir.
Naquela manhã , uma nova flor de vívida cor púrpura o ipê ao céu fez florir.
( A flor do ipê
é uma das poucas que floresce durante todo o ano, mesmo no inverno. O ipê nos
ensina que é possível ser resistente, sem perder a beleza.
Nossos indígenas
diziam que o ipê protegia Pindorama, a ancestral Mátria. Na mitologia
tupi-guarani, um dos sentidos de Pindorama é: “terra onde os maus são vencidos”
.
Os colonizadores
tentaram acabar com o ipê, porém não conseguiram. Então, descobriram que podiam
ganhar dinheiro sangrando uma árvore chamada pau-brasil, cuja resina
avermelhada corre no tronco da árvore como em nossas veias o sangue.
Foi a partir do
comércio dessa resina cor de sangue que a terra explorada ganhou novo nome,
sendo então chamada de “Brasil” pelos seus algozes.
Na boca dos
pseudonacionalistas de hoje , “Brasil” continua
sendo o nome da vítima explorada , como a “Madalena” da história, oferecida por eles ao colonizador-patriarcal da hora: Trump.
Nada contra o
verde e amarelo, mas prefiro a bandeira
da autêntica independência e resistência que os ipês pintam em púrpura,
rosa, branco e amarelo, as cores ancestrais de nossa Mátria-Pindorama)
"Se o homem é formado pelas circunstâncias,
é necessário formar as circunstâncias humanamente."
(K. MARX E F. ENGELS, A Sagrada Família )