sexta-feira, 15 de outubro de 2010




CONCURSO PARA DECÊNCIA SUPERIOR

Estou prestando concurso público para pombo.
Acho que tenho sérias chances de aprovação,
pois a banca é composta apenas por anjos;
e sempre tive queda para voar, mesmo com os pés no chão.

A prova teórica consiste em:
dissertar assoviando acerca dos limites da razão.
A prova prática consiste em:
ir buscar no céu o que sinceramente quer meu coração.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010





I ENCONTRO COM TODAS AS LETRAS

ARTE E TEMPO

Organização: Mário Bruno


Dia 25/10/2009

08:40 Café da manhã
09:00 Mesa: “O tempo que (não) passa”
Prof. Dr. Auterives Maciel (PUC-Rio)
Prof. Dr. Elton Luiz (UniRio)
14:00 Mesa: “Arte-tempo na clínica”
Prof. Dr. Eduardo Passos (UFF)
15:00 Mesa: “Espirais do instante”
Isabelle Christ (Doutoranda -UFRJ)
Simone Manso Escobar (Doutoranda - UERJ)


Dia 26/10/2009

08:40 Café da manhã
09:00 Mesa: “Arte-fabulação”
Prof. Dr. Mário Bruno (UFF/UERJ)
Prof.ª Dr.ª Luci Ruas (UFRJ)
14:00 Mesa: “Tempos capitais”
Prof. Dr. Antônio Carlos Mateus
15:00 Comunicações
16:00 Mesa: “Música com todas as letras”
André Conforte (Doutorando em Letras pela UERJ e Músico)
Prof. Dr. André Valente (UERJ)
19:00 Encerramento: “Chorinho/samba”


Evento gratuito (sem nenhuma taxa)


Local: Universidade Federal Fluminense (UFF), Campus do Gragoatá, Faculdade de Letras, Auditório Macunaíma.
Data: 25 e 26 de outubro de 2009.
Duração: 2 dias
Inscrições: Serão realizadas no primeiro dia do evento no local acima, 20 minutos antes de se iniciarem as atividades.

Projeto Pop Filosofia (UFF) e Projeto Com Todas as Letras (UFF)
Mais informações: mariobrunouerj@yahoo.com.br
Visite o blog: http://mariobruno-popfilosofia.blogspot.com

sexta-feira, 8 de outubro de 2010



Não haver mais porta que nos separe da estrada,
nem janela que nos ponha aqui- e, lá, a paisagem sonhada.

Não haver mais parede, chão ou teto
que não deixem voar a alma.

Não haver mais nem eu ou tu;
nem espaço de dentro que não se abra ao de fora.

Só assim,
a todos recebendo e a todos visitando,
só assim habitaremos a mesma Casa.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

trecho de conferência que será feita na Uff, em 25/10, às 9hrs, no evento ARTE-TEMPO

SOBRE O TEMPO QUE NÃO PASSA


Instalados no presente, olhamos para trás, para o passado. O que vemos nele? Antigos presentes nos quais estávamos. Imaginariamente, traçamos uma linha, uma linha reta, que vai dos antigos presentes a este presente, que também passa, como se a tivesse traçado uma finalidade da qual estivéssemos conscientes e fôssemos seu Sujeito. Porém, estarmos instalados no presente não significa estarmos instalados no tempo. Talvez este exija de nós um salto, um mergulho, um sobrevoar. Um sobrevoar os antigos presentes, mas em busca de algo que nunca foi presente: o passado. Somente estamos aptos a este sobrevôo quando compreendemos a diferença entre o passado e os antigos presentes, pois o passado enquanto tal não é um antigo presente. Quando relacionamos o antigo presente com o atual no qual estamos, nasce a ilusão mais entranhada na consciência: a do tempo como linha que vai dos mais antigos presentes ao atual, como num percurso que vai do mais indeterminado ao determinado.
Contudo, tudo muda quando relacionamos o antigo presente não com o presente atual, mas com o passado em relação ao qual ele era presente. Visto dessa forma, o antigo presente já não é mais antigo, mas novo: diferença acrescida ao passado.
E o passado, o que é? O passado puro, livre das armadilhas psicológicas da consciência, nada tem a ver com um antigo presente, isto porque o passado nunca foi presente. Em relação a todo presente, ele é Diferença. Reportado então a esse passado puro, o presente é Repetição. O que repete a diferença nunca é o mesmo. Por isso, o presente é sempre novidade que se sobrevoa, e nunca pousa no mesmo, no já visto. De certo modo, o passado não passa, o que passa é o presente. Porém, o que faz o presente passar não é o passado, é a emergência intempestiva do futuro. O passado conserva, o presente passa, mas só o futuro cria. Originalmente, as palavras “crer” e “criar” têm uma origem comum. Somente crê quem cria. E é por isso que a verdadeira crença tem por questão não o que foi ou o que é, e sim o que ainda não existe, e que precisa ser criado. Essa exigência é, no seio mesmo do que passa, o que não passa, posto que eterna e intempestiva novidade. E o que é verdadeiramente novo o é e será sempre. O que é verdadeiramente novo nunca passa, como passam as coisas que são apenas frutos de um presente sem passado e sem futuro ( como o que vige em nossos sombrios tempos...).

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

trecho do livro "Manoel de Barros:a poética do deslimite" (Editora 7letras/FAPERJ), a sair em dezembro




No "Livro de pré-coisas" , na prosa poética intitulada "Agroval", Manoel de Barros descreve um acontecimento ordinário do pantanal. “Ordinário”, aqui, significa a mesma coisa que comum ou regular. À idéia de “ordinário” costumamos opor a noção de “extraordinário”. Vale a pena lembrar a origem matemática destes termos. Na matemática, os “pontos ordinários” de um triângulo são os inumeráveis e indistintos pontos que ocupam cada um dos lados da figura, ao passo que seus três “pontos extraordinários”, ou singulares, localizam-se em cada ângulo do triângulo. Em uma reta, por sua vez, os pontos extraordinários são dois: aqueles que ocupam os extremos da linha.
Todavia, a diferença entre ordinário e extraordinário mostra toda a sua riqueza quando examinamos o círculo. Aparentemente, tal figura geométrica é destituída de pontos extraordinários ou singulares. Mais do que uma linha reta, geralmente costuma-se afirmar que nossa vida é um círculo: o círculo de nossa vida. Então, estaria o círculo de nossa existência destituído de momentos singulares? Estaria nossa vida refém do ordinário?
Mas o círculo guarda um segredo, tanto na matemática como na vida: qualquer ponto ordinário seu pode metamorfosear-se em ponto extraordinário, se por ele passar uma tangente. No encontro da tangente com o círculo, ambos dividirão o mesmo ponto, abrindo assim o círculo a uma força que vem de fora de seus limites e contornos. Quando o ordinário se converte em extraordinário, acontece o deslimite -renovando-se a vida.
Assim, entre o ordinário e o extraordinário não existe uma diferença intransponível: é no seio do ordinário que o extraordinário acontece. “Cada coisa ordinária é um elemento de estima”, afirma o poeta. Pois, complementa, “é no ínfimo que eu vejo a exuberância”. Em "O Guardador de águas", ele revela ainda: “No achamento do chão também foram descobertas as origens do vôo.” É no ordinário do chão que o extraordinário, como vôo, é “achado”. Enfim, “o chão é um ensino”.

"O que eu descubro ao fim da minha Estética da Ordinariedade , afirma o poeta,é que eu gostaria de redimir as pobres coisas do chão".

sábado, 7 de agosto de 2010

passagem




Quem me pensava morto, destruído, acabado, vencido...
desconhece o que pode o meu escudo.
Não revido aos que a mim mostram o punho.
Mas firmemente me recolho ao que sou para ao alto tomar impulso.

Não estou onde você pensa,
nem caibo em sua mente definidora.
Nunca estou pronto: sou só rascunho.

Não me atrai ouro, título ou palavra que desperdiça o sentido.
Cativam-me gestos simples , pois só estes são amigos.
O camaleão é meu mestre.
E quem não fala de si, o monge que sigo.

Sou para fora, mas brotando de dentro.
Não conto quantos sou,
mas sei que sou muitos.

Já perdi quando ganhei,
e ganhei mesmo tendo perdido.
E tudo o que aprendi lhe ofereço,
e de graça,
pois mais falsa é a lição quanto maior for seu preço.

Não preciso mais ir,
pois já estou onde quero.
E preferiria a madeira mais simples ao mármore,
se fosse para me fazer esculpido.

Despi-me de toda leitura,
para em minha boca falar o simples.
Pois quem só diz palavra no que diz,
é porque já não nasce do coração o sentido.